sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

TEMPESTADE PERFEITA

Postado por Berto Filho

Sem ser meteorologista, o jornalista Merval Pereira arrisca uma previsão de tempo bastante sombria no ano da Copa e das eleições por conta de um ingrediente pra lá de 
explosivo : dissonâncias das políticas de governo com as ansiedades e expectativas das ruas. O voto secreto foi parcialmente alcançado, mas tem muito mais no balaio da rua que não foi atendido. Tá na fila de espera.... O recall, por exemplo. Tirar um político no meio do mandato porque está se comportando mal, xavecando, permitindo que subordinados falsifiquem assinaturas em documentos políticos ou desviando dinheiro público. Nem levo em conta o fato de o Brasil ser o único país do mundo em que deputados condenados pelo Supremo num regime, graças a Deus, ainda democrático, podem continuar a exercer seus mandatos ou se auto-proclamam presos políticos. O que mais me surpreende é a moita das oposições. Simplesmente saíram do ar. Dilma continua absoluta no topo do ranking presidencial. Dilma na Globo no sorteio dos jogos da Copa hoje. faz parte do cerimonial do ato mas não deixa de ser mais uma ocupação de mídia que não pode ser desatrelada da campanha eleitoral antecipada. Bingo.
 
Texto do Merval :
O dia de ontem foi pródigo em manifestações das mais variadas espécies sobre um só motivo: o receio de que as manifestações de junho passado voltem a tomar conta do país. Quem primeiro revelou essa preocupação recôndita foi o ex-presidente Lula, cuja língua solta acabou traindo-o no discurso de improviso que fez ao receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo.

Ao se auto-elogiar por ter autorizado o funcionamento da Universidade, Lula alertou a presidente Dilma, presente ao evento na qualidade de coadjuvante, como sói acontecer quando os dois estão juntos: “Depois que ele se forma doutor, não espere que ele ficará agradecido. Ele vai para a rua fazer manifestação contra você”.

Para evitar isso, Lula disse que só existe uma maneira: “garantir que, depois de formado, ele possa aperfeiçoar seus estudos e o emprego do sonho dele. Quando ele conseguir isso, pode estar certa de que ele não vai mais sair para passeata”.

Portanto, Lula sabe que as passeatas foram contra o governo, e admite publicamente que é preciso fazer mais do que simplesmente criar universidades sem estrutura e sem projeto de educação.

Em seguida foi o prefeito do Rio Eduardo Paes que confirmou o aumento de passagens de ônibus no ano que vem, inevitável por previsão contratual. Mais uma vez as manifestações populares de junho, que começaram a partir de um movimento contra um aumento de R$ O, 20 centavos nas passagens de ônibus – que, aliás, havia sido adiado a pedido do governo federal para segurar a inflação – voltaram a rondar a conversa quando o Prefeito disse que a redução ocorrida este ano “por motivos óbvios” não poderia ser mantida por muito mais tempo.

Para completar o cardápio, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke admitiu que as manifestações populares de junho quase tiraram a Copa do Mundo do Brasil. Na Costa do Sauípe às voltas com o sorteio das chaves da Copa do Mundo e os atrasos dos estádios de futebol brasileiros, Valcke relembrou que houve um momento em que se pensou em suspender a Copa das Confederações, o que tecnicamente levaria à mudança da sede da Copa de 2014.

Pois todos esses fatores estarão de volta ao cenário brasileiro no próximo ano, e com ingredientes da economia internacional que podem pressionar a combalida economia nacional. Seria a “tempestade perfeita”, raro fenômeno meteorológico que conjuga fatores climáticos produzindo ondas gigantescas e ventos de quase 300 km/h, como aconteceu em 1991 no Caribe.

Em economia, dá-se esse nome à conjunção de fatores internos e externos que pode abalar um país. Com a perspectiva de reversão da política monetária fortemente expansionista do governo dos Estados Unidos através do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), e os problemas fiscais vividos pelo país, teme-se que uma “tempestade perfeita” atinja o Brasil no próximo ano, exacerbada pelas questões políticas internas.

Justamente quando estará em disputa a reeleição da presidente Dilma, que, por isso mesmo, não terá margem de manobra para reduzir gastos públicos. Há estudos que demonstram que historicamente a utilização de políticas monetárias, fiscais e cambiais com claros objetivos político-eleitorais gera Ciclos Políticos de Negócios (CPNs), cuja principal característica é a redução do desemprego em períodos pré-eleitorais, com o objetivo de proporcionar um ambiente positivo capaz de influenciar o resultado eleitoral.

Após esse período de crescimento, no entanto, o período pós- eleitoral é caracterizado por inflação em alta, cuja conseqüência é a adoção de políticas macroeconômicas contracionistas. No Brasil temos pleno emprego em uma economia que cresce a ritmo de pibinho, com previsão de piorar no próximo ano. E já temos inflação alta.

Todo o esforço da presidente Dilma será atravessar o ano sem que as diversas crises previstas afetem sua possibilidade de reeleição. Seja quem for o vencedor, porém, terá um 2015 caótico pela frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário