Autor : Merval Pereira
Publicado em O GLOBO - 21/09/13
Aos meus leitores : publico este artigo do Merval porque informa,
esclarece e provoca a curiosidade sobre o glamuroso mundo do petróleo. Se você
mergulhar mais fundo neste blog, vai ter a oportunidade de ler outros artigos
do Merval e artigos e textos de outros jornalistas e personalidades importantes
deste país.
A decisão das grandes empresas de petróleo dos Estados
Unidos e da Inglaterra de não participar da licitação do Campo de Libra, a
primeira do pré-sal no novo marco regulatório de partilha, em vez de concessão,
reflete um receio de como funcionarão as novas regras, com a atuação da estatal
PPSA com poder de veto nas decisões de produção.
Há várias dúvidas: sobre como atuará a nova estatal, que
não tem nem mesmo a direção nomeada; como a indústria brasileira vai responder
à demanda de material local; e até mesmo quanto à capacitação da mão de obra.
Esse receio, no entanto, é menosprezado pelas empresas que entraram na
licitação, como a espanhola Repsol, cujo representante me disse considerar
"uma burrice" não entrar agora.
Em consórcio com a chinesa Sinopec, com quem já atua em
conjunto no Brasil, a Repsol pretende até mesmo enfrentar com criatividade a
exigência de conteúdo nacional. Como estão encontrando dificuldades para essa
produção no Brasil, querem que empresas brasileiras possam comprar estaleiros
na Europa que estão sem serviço para suprir a demanda brasileira.
A impressão é que as grandes empresas ficaram de fora
para acompanhar como as coisas andarão, e, se tudo caminhar bem, provavelmente
estarão no próximo leilão, que deve se realizar somente em 2015, pois no
próximo ano, eleitoral, não haverá licitação. Certamente essas empresas estão
também aguardando o resultado da eleição para saber com quem terão que
negociar.
Nestes cinco anos em que não houve licitação no Brasil, o
país que tirou mais proveito foi a Colômbia, atraindo capitais para
investimento. A indústria do petróleo é muito globalizada e padronizada, não há
margem para muita invenção. A empresa vai para onde há mais garantias e
potencial. O potencial do pré-sal do Brasil é gigantesco, mas o governo tem de
dar condições para se desenvolver a produção, alegam : executivos da área.
O petróleo é uma commoditie que tem uma demanda
crescente, a economia dos Estados Unidos está se recuperando e há indicação de
que haverá nos próximos 30 anos uma demanda sustentável no mundo, e as
companhias terão de trabalhar muito para oferecer o petróleo de que o mundo
precisará.
A Agência Internacional de Energia diz que o consumo
atual de 85 milhões de barris/dia chegará a mais de 100 milhões e demandará
para tanto a aplicação de cerca de US$ 25 trilhões nesse período.
A área a ser licitada tem cercá de 1,5 mil quilômetros
quadrados. A Petrobras descobriu, além de Libra, outros campos, como o de
Franco. A indicação com o poço que foi feito é maravilhosa, qualquer petroleiro
fica extasiado com o resultado. Mas daí a afirmar que toda a área de Libra vai
ter o mesmo resultado é de difícil comprovação, existe um risco. Quando a ANP
diz que o volume de petróleo recuperável do Campo de Libra deverá oscilar entre
oito bilhões e 12 bilhões de barris, está jogando com 50% de margem.
A exploração exige muito dinheiro. O Ministério de Minas
e Energia estima entre 15 e 18 módulos de produção. Cada um deles tem um grande
navio produtor que se conecta com os poços, e todo esse conjunto de exploração
está estimado em US$ 6 bilhões cada. Só de investimento, fica em torno de US$
100 bilhões. Mais os R$ 15 bilhões para o bid dos 70% do campo (a Petrobras tem
30% no mínimo), e há o custo operacional.
É um projeto que pode chegar até a US$ 200 bilhões, com
recuperação a longo prazo. Há todo o período de estudos geológicos até a
perfuração dos poços. Só depois de ter certeza da capacidade do campo, é que o
projeto de concepção pode ser efetivamente detalhado. Tudo isso pode levar de
sete a nove anos, e por volta de 2020-2022 começa a render frutos, a partir do
quê, as empresas terão cerca de 20 anos para recuperar o investimento.
A PPSA provoca insegurança nas companhias operadoras. Há
certos custos que podem ter caráter subjetivo e ficarão sujeitos ao crivo dessa
estatal. Em todo o mundo existe um documento chamado JOA (Joint Operating
Agreement), que é quase padrão. Ali estão definidas as regras, e as empresas
sabem como se decidem brigas, conflitos, qual é o papel de cada um, o que faz o
operador, o que fazem os sócios, tudo já está definido há 50 anos.
Quando em lugar do JOA se põe uma empresa estatal que não
investe um centavo, mas tem poder de muda totalmente a conversa. Na Noruega, há
uma empresa do governo que participa, mas até agora não criou problemas para
ninguém. As companhias querem saber como se comportará a nossa estatal do
pré-sal.
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