domingo, 19 de janeiro de 2014

ROLEZINHO : SUBURBAN WAY OF LIFE

Postado por Berto Filho

Um desejo inconsciente de se integrar, de afirmação social, de anti-racismo , de ser diferente ou de ser igual a quem se aspira a ser ? Insatisfação contra a falta de opções de cultura, lazer e esportes nas periferias ? Consumismo favorecido por pleno emprego e crédito fácil, despertado nas classes de baixa renda e escolaridade pelos flashes da propaganda que estimulam o consumo especialmente de supérfluos ?

O shopping center deveria se suburbanizar e ser construído onde o periférico está, e funcionar como os shoppings centrais ? Faz sentido.

Esse shopping desejado no inconsciente coletivo dessa massa teria que ter o modelo de um grande clube de consumo com espaços para esportes, shows e convivência harmoniosa entre seres da mesma classe. Além, é claro, de lojas que vendam o que eles querem consumir.,

Serão os rolezinhos ensaios técnicos da manifestação de junho de 2013 (como os ensaios de escolas de samba...) nos principais templos de consumo do país preparando o espírito para as agitações urbanas de 2014 ou não tem nada a ver ? A semelhança começa na convocação pelas mídias sociais. Encontros marcados para assombrar, barbarizar ?

Habitaria o rolezinho o DNA de uma subliminar luta de classes manipulada por algum cérebro endiabrado ?

Ou será um simples divertimento inocente, uma manifestação cultural permissível até que, precedida por ruidosos chavões anti-elitistas bradados em gritos de guerra preventiva oral e/ou por meio de efetivas ações predatórias, a la Black Blocs, exploda em luta campal e aí tem que ter polícia reprimindo para salvaguardar lojistas e consumidores bem comportados e bons gastadores (da velha classe média, salvação dos lojistas), conforme observado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin ?

O rolezinho vai se alastrando como praga moderna a partir da periferia de São Paulo (cidade que anda ditando moda no lançamento de fenômenos sociais de massa) criando um movimento novo que poderia ser denominado de suburban way of life (expressão que me ocorreu agora), estilo de vida da periferia jovem que tem algum dinheiro no bolso e uma vontade imensa de curtir a vida, se divertir, mesmo que à custa de provocar sustos ou aturdir a sociedade (como se fora uma intimidação para conscientizar as camadas mais afluentes do capitalismo selvagem).

Buscariam inconscientemente afrontar a velha classe média, se destacar na multidão e promover uma arruaçazinha (ou arruaçazona, dependendo do conteúdo explosivo de suas palavras de ordem) apenas para entrar na mídia e usufruir a glória efêmera desse sucesso ?

O algum dinheiro no bolso que arde instantaneamente nos shoppings aos apelos dos anúncios das TVs para a conquista de novo status, tentação insidiosa, provém de uma combinação de fontes e bondades, entre elas salário do primeiro emprego, salário desemprego, pleno emprego (em alguns setores da economia), sobras dos milagres da engenharia social do atual governo federal, incluindo a distribuição gratuita de renda mínima aos 50 milhões de assistidos do Bolsa Família, as cotas no ensino público e o acesso facilitado a empréstimos e financiamentos (lembro a alta inadimplência do “Minha Casa, Minhas Dívidas”, um freio psicológico que não parece funcionar direito...).

Serão os protagonistas desse novo seriado de pesadelos urbanos pequenos anarquistas manipulados por uma inteligência soturna, ainda oculta por disfarces de difícil decifração, que estaria plasmando uma nova luta de classes nos octógonos privilegiados em que podem se transformar os shopping centers, novas arenas que se somariam aos estádios de futebol ?

Um pouco de tudo isso, talvez.

Não sou doutorado em rolezinho, nunca presenciei um, até porque sou meio avesso a frequentar shoppings, acho aquilo tudo muito artificial. Prefiro as lojas de rua, as 25 de março da vida.

Como um cidadão curioso (todo jornalista tem esse vício) e mesmo a uma distância considerável de um shopping center, convoquei meus neurônios neste domingo a refletir sobre essa anomalia que vagueia entre ser saudável ou doentia.

As notícias que seguem são de ontem. Há promessas de rolezinhos por toda parte.

Onde vai parar isso ? E tem o perigo da politização, do oportunismo partidário, o PSOL já aparece no epicentro de uma dessas eletrizantes invasões de shopping.

“O Globo :
Grupo promove correria no Plaza Shopping, em Niterói

Um grupo de cerca 50 pessoas, algumas filiadas a partidos políticos, promoveu um tumulto no Plaza Shopping, em Niterói, no início da noite deste sábado, 18. Os manifestantes entraram no centro comercial gritando palavras de ordem contra a discriminação racial e repetindo expressões usadas em protestos, como “não vai ter Copa”. O movimento foi liderado por Paulo Henrique Lima, que foi candidato a vereador pelo PSOL em São Gonçalo.

As lojas foram orientadas por seguranças a fechar as portas, mesma atitude adotada pela administração do shopping, que permitiu apenas a saída dos clientes que estavam no local. Quando o grupo chegou ao segundo piso, onde está localizada a praça de alimentação, um boato de arrastão causou um princípio de tumulto. O corre-corre chegou a se estender para a área central do centro comercial. Apesar disso, o protesto seguiu pelos corredores, de forma pacífica. Nada foi danificado nem qualquer produto roubado. Ainda assim, a maioria dos frequentadores preferiu deixar o local.

Os manifestantes tentaram entrar nas poucas lojas que ainda estavam com as portas abertas, ou semiabertas, mas foram impedidos pelos seguranças. Eles se dirigiram à área dos cinemas, mas foram igualmente barrados.

O criador da página do rolezinho de Niterói no Facebook, Thiago Corrêa, não compareceu ao ato porque está em Buenos Aires. Por meio da rede social, O GLOBO entrou em contato com ele. Thiago afirmou que a convocação do evento foi uma ironia:

— Quando ocorreu o rolezinho em São Paulo, a polícia provou quem é perigoso, quem é violento de verdade nesta história. O intuito do evento é irônico, sempre irônico. Não é esse intuito direto, preto no branco, que a imprensa impõe aos fatos. Quando criei o evento, quis alertar para posições racistas que ocorrem todos os dias no Brasil — disse, por mensagem no Facebook.

Ilha Plaza reforça a segurança

A segurança também foi reforçada no shopping Ilha Plaza, na Ilha do Governador, onde aconteceria um rolezinho às 16h. O clima era de tensão. Para ajudar no controle de quem entrava no shopping, as duas lojas que têm acesso pela área externa fecharam as portas. Quem entrava no estabelecimento, ficava sob os olhares atentos de dezenas de seguranças que tomavam conta dos corredores e se comunicavam por rádio.

Do lado de fora, havia quatro policias militares na porta do shopping. Um carro do Batalhão de Choque (BPChoq) circulava pelas ruas próximas. Passageiros de vans eram revistados.

— Está todo mundo apavorado. Os lojistas já foram orientados a fechar o comércio, caso tenha o rolezinho— disse o lojista Carlos Megia.

Além dele, funcionários aguardavam alguma movimentação estranha.  A notícia de que haveria um rolezinho acabou levando dezenas de curiosos para a porta do shopping.

Apesar do clima de pânico entre os comerciantes, clientes circulavam pelo shopping normalmente. A praça de alimentação estava lotada, e muitas pessoas queriam saber o que estava acontecendo.

— Teve algum assalto aqui? Está seguro para ir embora? — perguntava Josilene Faria a um funcionário do estabelecimento comercial.

A gerente financeira Soraia Rodrigues também estava surpresa com a movimentação.”

Estou voltando. É, o rolezinho já é a vedete deste verão e tende a pipocar e gerar consequências, não sabemos quais, como o possível pânico de frequentar shoppings, o que seria um desastre total para esse importante segmento.

Aqui em Cabo Frio foi inaugurado no fim do ano passado o Shopping Park Lagos. Quem se atreve a tirar o lacre virtuoso desse templo de consumo com um rolezinho sinistro ?

Um comentário:

  1. Bacana a matéria. Tem outra também bem interessante, todos deveriam ler: http://cutucandoaonca.blogspot.com.br/2014/01/rolezinho-ela-falava-alemao-e-ele-tinha.html

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