segunda-feira, 18 de agosto de 2014

DO JORNAL NACIONAL PARA A HISTÓRIA

Post de Berto Filho

O chorado mártir Eduardo Campos, que deixou muitos eleitores órfãos em Pernambuco e no Brasil, é, na companhia do avô, Miguel Arraes, o protagonista principal do artigo que segue abaixo, publicado pelo jornalista 
Ricardo Noblat em seu blog. No novo cenário sem Eduardo, a luta passa a ser pela disputa do seu espólio como um político singular, diferenciado e com um programa pronto de governo, e da sua imagem no marketing político, imagem que começava a ganhar consistência e atrair mais e mais simpatizantes, pois finalmente ele encontrara a linguagem certa para convencer o eleitor que não o conhecia.

Eduardo acreditava que, na subida firme e segura de sua candidatura, iria para o 2o turno e derrotaria Dilma. E se já acordou do estado de letargia que desaparecimentos súbitos e violentos causam às vítimas no plano espiritual, deve estar empurrando sua esposa Renata para assumir pelo menos a candidatura a vice presidente na Chapa do PSB puxada por Marina. Renata teria a função aparentemente constrangedora de impedir que Marina se afaste dos compromissos ora impostos a ela pela direção do PSB.
Roberto Amaral, atual presidente do partido, disse que Renata Campos é a maior liderança do PSB. Para bom entendedor, meia palavra basta. Ela joga pelos 2. 
Dependendo de quem será o vice, Marina poderá ganhar (ou não) musculatura para dobrar Dilma em um eventual 2o turno.
Por uma conspiração (a favor) de fatores absolutamente inesperados, o PSB está diante de uma oportunidade única de ganhar uma eleição para a presidência e pôr um fim na velha dicotomia PT-PSDB.

Os marqueteiros que se preparem para decodificar para os eleitores as mudanças que estão acontecendo. nos bastidores.



Apesar de Dilma ter se saído bem na pesquisa Datafolha divulgada hoje (seu governo foi aprovado por mais 6%), e de ter assimilado bem essa informação para digerir durante o dia, ela teve um inicio de noite indigesto. Na entrevista ao JN foi, digamos, "executada" pelas perguntas embaraçosas, bem montadas e objetivas feitas na bucha pelo Bonner. 

Dilma procurava espichar suas respostas para reduzir o tempo para novas perguntas e sair do canto do ringue com algumas estocadas de bons (segundo ela) serviços prestados por seu governo ao povo. Um duelo de espadachins, Dilma sempre na defensiva mas apreensiva e focada num roteiro de respostas prontas para perguntas que ela imaginara que poderiam ser outras. Os 10 bilhões de dólares da Operação Lava Jato que teriam sido desviados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ,sequer foram lembrados pelo Bonner.

Patricia Poeta ficou num morno segundo plano. Ela parecia estar meio espantada com a combatividade do companheiro... Bonner tentava cortar Dilma (ela não deixava, não queria perder o controle da palavra, mostrou-se várias vezes incomodada com isso, como se as perguntas fossem impertinentes ou maldosas, como a do Mensalão, que não respondeu) e conduzir a resposta da Dilma para um determinado ponto, que lhe parecia coerente com cada uma das respostas que ela estava dando ou com a afirmação que cada pergunta continha em seu bojo, todas desfavoráveuis ao governo dela e do PT. 
Por exemplo, só no final de sua resposta sobre a situação da saúde no Brasil, e diante da insistência do Bonner, ela jogou a toalha e admitiu que a situação (da saúde) não é minimamente razoável mas, para fugir da retrança, contraatacou com o mais médicos, que, segundo ela, estaria dando conta das necessidades dos beneficiários da atenção básica. O difícil é provar...

Por outro lado, na minha opinião, o Bonner aproveitou o lance para livrar a cara da Globo de ser vista como parceira do governo pela dinheirama respeitável que o governo Dilma, e também os 2 governos Lula despejaram nos cofres do Jardim Botânico. E o governo Dilma será obrigado a continuar despejando pois a Globo dá resultado.

Enfim , o espetáculo desses 15 minutos (teriam sido mais ? Pareceu que sim...) foi um acontecimento jornalístico que honra a nossa profissão e um fato político que poderá repercutir na
(in)formação do eleitor das classes médias emergentes, infensos a falcatruas e malfeitos atribuíveis ao PT  e a dirigentes do governo.  É que esse eleitor não lê O Globo mas vê a TV Globo. 

Me deu a impressão de que a senhora Dilma ficou em cacos e imagino que diálogos podem ter havido quando a entrevista terminou.  Mas como estavam no Palácio da Alvorada, noblesse oblige, deve ter sido uma despedida respeitosa. Mas a última imagem antes do fechamento das cortinas era a de um clima de beligerância, cápsulas de balas espalhadas pelo chão. Talvez Dilma pense com seus botões, que sendo dela o mando de campo, teria que ser tratada, pelo menos na forma de disparar as perguntas, com maior neutralidade e reverência. Bonner carregou na tinta, pode-se dizer que foi mais rude que o normal.
Sobrou também para Dilma a "rudeza", como já reclamara o pessoal do Aécio.


Saí fora da trilha inicial por uma empolgação natural. Mas vamos ao texto do Noblat



 
A guerra dos tronos, por Ricardo Noblat

Tal avô, tal pai adotivo e tal filho.

Há nove anos, pouco antes de morrer, o mítico Miguel Arraes, três vezes governador de Pernambuco, cassado e exilado pela ditadura de 1964, ouviu a provocação feita por um amigo do seu neto, Eduardo Campos: “Não está na hora de passar o chapéu, doutor?”.

Arraes respondeu de pronto: “Quem quiser que pegue”.
Isto é: não indicarei um herdeiro. Quem quiser que conquiste o lugar.

Entre amigos, mais de uma vez nos últimos anos, Lula disse que considerava Eduardo uma espécie de filho adotivo seu.

Quem, dentro do PT, Lula formou para sucedê-lo no comando do partido? Por todos os meios possíveis, Lula sempre deu um jeito de apagar quem lhe pudesse fazer sombra.

Concorreu à presidência da República cinco vezes. Para substituí-lo por quatro anos apenas, Iluminou um poste chamado Dilma.

O poste rebelou-se, bateu o salto no chão com raiva e decidiu tentar se reeleger. Lula amaldiçoa a hora em que não abriu o jogo e combinou com Dilma que em 2014 seria novamente a vez dele.

Agora é tarde. Nem mesmo o fantasma de Marina Silva será capaz de remover Dilma do caminho de Lula. Se depender de Dilma, Lula brilhará em sua campanha e a seu serviço. Mas não dividirá o protagonismo com ela.

Arraes morreu de morte morrida aos 89 anos de idade. Eduardo, de morte inesperada, trágica, aos 49 anos.

Como o avô e o pai adotivo, Eduardo não deixa herdeiros. Primeiro porque não teve tempo para deixar. Segundo porque não fez questão de deixar.

Marina disputará a vaga de Dilma porque era vice de Eduardo – não porque fosse sua herdeira.

Pernambuco, um dos Estados mais politizados do país, ficou politicamente órfão.

Tamanha era a força de Eduardo que ele se reelegeu em 2010 com 82% dos votos, ganhou a eleição em todos os municípios do Estado, encabeçou nos últimos quatro anos a lista dos governadores mais bem avaliados do país, e juntou 20 partidos para derrotar fragorosamente o PT há dois anos e eleger prefeito do Recife quem jamais disputara uma eleição.

Os amigos, às suas costas, o chamavam de “O Imperador”. Pois bem: “O Imperador” indicou para seu lugar um ex-auxiliar que, como o prefeito, era novato em matéria de eleição – o técnico Paulo Câmara, ex-secretário da Administração e da Fazenda de Eduardo.

O Datafolha, no sábado passado, conferiu a Paulo 13% das intenções de voto contra 47% de Armando Monteiro Filho, candidato apoiado pelo PT.

Se estivesse vivo, Eduardo daria um jeito de animar seus seguidores.

Dotado de uma extraordinária autoconfiança, de uma capacidade de trabalho invejada por amigos e adversários e de um admirável poder de persuasão, para Eduardo não existia o talvez ou o quem sabe.

Parecia convencido de que nada o impediria de atingir de fato seus objetivos. E a se levar em conta sua curta, mas meteórica e bem-sucedida trajetória política, estava certo.

Eduardo morreu convencido de que elegeria seu candidato ao governo de Pernambuco, e de que venceria Dilma no segundo turno com a ajuda de Aécio Neves, do PSDB.

Da única vez que falou para milhões de brasileiros – cerca de 35 milhões, a audiência do Jornal Nacional na última terça-feira -, cunhou a frase pela qual começa a se tornar conhecido: “Não vamos desistir do Brasil”.

Pouco depois de dizê-la, e como não parasse de falar, ouviu de Patricia Poeta, apresentadora do telejornal, a advertência curta e grossa: “Seu tempo acabou, candidato”.

Morreu no dia seguinte. Virou história.

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