domingo, 24 de agosto de 2014

REVISITANDO JOÃO ROBERTO KELLY

Post de Berto Filho



Privei da amizade desse grande artista. Tudo o que o Gerdal secreveu sobre ele (aqui embaixo) é pouco para tão grande talento. Confira.


Para a nova geração, apenas um expoente do carnaval - ao qual deu bela contribuição em marchas-rancho, como "Rancho da Praça Onze", Rancho do Lalá", "Rancho do Rio" e "Rancho do Bonde", além de, é claro - pelo que ela já conhece bem -, marchinhas de enorme sucesso, como "Cabeleira do Zezé", Mulata Bossa-Nova" e "Colombina Ieieiê". No entanto, antes que toda essa produção, na segunda metade dos anos 60, viesse a lume para a folia e a alegria dos brincantes, João Roberto Kelly, já um autor de trilhas para o teatro (debutando como tal, em fins dos anos 50, no Teatrinho Jardel, em Copacabana, pelas mãos de Geisa Bóscoli) e, pouco depois, para a tevê ("Time Square", "My Fair Show" e "Praça Onze"), notabilizou-se como um cultor do samba de balanço (como também o faziam - e muito bem - Ed Lincoln, Luiz Bandeira, Orlandivo e Jadir de Castro, entre outros).
Bem-humorado, satírico e estimulado, na ribalta, pela companhia de Leon Eliachar e Milllor Fernandes - cujas peças " Sputinik no Morro" e "Pif-Tag-Zig-Pong ", respectivamente, musicou -, Kelly, em 1961 e 1962, em seus primeiros e raríssimos elepês, explorou esse filão sincopado com verve bem carioca e feitio noelesco nas letras - uma influência observada por críticos na época. Um retratista social, carioca de fato (nascido na Gamboa e criado na Lagoa), de olho na cena citadina e nos costumes, embora, romântico e boêmio, o balanço do seu piano também socorresse o coração avariado - como em "Esmola", em 1962, por Elizeth Cardoso, e "Boato", um ano antes, estourado em todo o país na voz de Elza Soares. Um Kelly que a chamada grande mídia esquece ou ignora - como outros da sua geração ou anteriores a esta-, mas merecedor de destaque. Além disso, por tudo que esse repertório evoca de um Rio-mar de sonho e curiosidade, pautado por outra cadência cultural.

Pós-escrito: a) dedico, em particular, estas linhas e a sequência musical abaixo ao pianista Charles Marot, primo do Kelly, e ao jornalista e escritor Ruy Castro;
b) nos "links" seguintes, com exceção do último (um samba gravado, em 1974, em elepê Odeon), parte da produção autoral de João Roberto Kelly, na voz dele e com ele ao piano (salvo onde indicado), na onda do balanço, em comecinho de carreira: 1) "Figurinha de Boate"; 2) "Zé de Conceição", com Miltinho; 3) "Tempos Modernos"; 4) "Brotinho Bossa-Nova"; 5) "Pororó-popó", com Elis Regina - então com 16 anos; 6) "Samba da Cabrocha"; 7) "Consolo de Otário"; 8) "Dor de Cotovelo", com Elis Regina - então com 17 anos; 9) "Gamação", com Humberto Garín, um bem conhecido e saudoso percussionista uruguaio que residia no Rio; 10) "Esmola", com Elizeth Cardoso; 11) "Passaporte pra Titia"; 12) "Sambeiro de Ipanema", com arranjo de Geraldo Vespar, feito como gozação ao "sui-generis" Carlos Imperial..

http://www.youtube.com/watch?v=uPzsxxK0-Oo ("Figurinha de Boate")

 
https://www.youtube.com/watch?v=vtVOC0arEqQ ("Zé de Conceição")

http://www.youtube.com/watch?v=QuiwGCja9qo ("Tempos Modernos")

 
http://www.youtube.com/watch?v=WPPKwS5WSfc ("Brotinho Bossa-Nova")

 
https://www.youtube.com/watch?v=Y3EfhcJgEa8 ("Pororó-popó")

 
http://www.youtube.com/watch?v=dH2YXzE_2vQ ("Samba da Cabrocha")

 
http://www.youtube.com/watch?v=0LxwAqT1hPc ("Consolo de Otário")

 
https://www.youtube.com/watch?v=U5mcLwSj0zQ ("Dor de Cotovelo")

 
https://www.youtube.com/watch?v=XA9cOa9aV9g ("Gamação")

https://www.youtube.com/watch?v=vryODnpYPOY ("Esmola")

http://www.youtube.com/watch?v=JhOPhLnmRtk ("Passaporte pra Titia")

http://www.youtube.com/watch?v=b9MhksUMRA8 ("Sambeiro de Ipanema")

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