segunda-feira, 3 de março de 2014

O MEDO DA IINSEGURANÇA NACIONAL

Postado por Berto Filho

Autor do texto que segue : Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Extraído do blog do Moreno (Jorge Bastos Moreno), que escreve no Globo.
Título : O Medo da Insegurança Nacional
Que desabafo !

O filho que não voltou no entardecer, morreu de uma bala perdida no meio de um tiroteio entre a polícia e os bandidos do narcotráfico; os crimes de corrupção praticados pelos supostos donos do poder, pouco deles foram julgados; a justiça nacional que alberga em seu prédio milhões de processos jamais julgados, prejudicando os inocentes e deixando livre os ladrões dos cofres individuais e públicos; a mãe que ainda chora a perda de sua filha, sequestrada na porta da faculdade, baleada, queimada e jogada na beira do rio; os jornalistas que morreram escrevendo, fotografando e filmando os fatos da violenta realidade brasileira; os políticos eleitos, reeleitos, que desde a morte de Tancredo Neves devem à população, a função política; os mesmos políticos que só se dedicam a aprovar leis que beneficiem seus parentes, amigos e provedores de campanhas eleitorais; o corporativismo das instituições judiciárias, julgando e aprovando artigos e decretos que engordam salários; o mesmo acontece com várias instituições nesse nosso Brasil; a descrença na punição dos bandidos, assaltantes, sequestradores, vândalos, políticos corruptos, servidores coniventes com a corrupção, policiais amigos e parceiros do tráfico; servidores que desviam verbas da saúde, da educação, das “bolsas” criadas pelo governo; uma jovem que perdeu seu filho na porta do hospital por falta de atendimento; os motoristas assaltados por quadrilhas nas rodovias; as mortes no trânsito, ainda que diminuídas pelas campanhas atuais do Ministério das Cidades; o filho do ricaço que junto a seus coleguinhas, praticam homicídios nas vias públicas e são impunes até hoje; os salários estagnados, desatualizados, menos os salários do legislativo e do judiciário; o amontoado de prisioneiros que convivem em clima asilar, de desrespeito aos direitos humanos, matando-se uns aos outros; os privilegiados que têm funções administrativas, legislativas, sem perderem seus benefícios mesmos estando presos; a perseguição cruel aos homoafetivos; os bandos de extermínio paramilitar; a falta de política para dar uma vida mais respeitosa aos aposentados e idosos; os jovens que se reúnem para protestar e cobrar do governo e dos legisladores seus compromissos de campanha, e são feridos, espancados; feridos e espancados pela polícia e pelos grupos de vândalos, quem sabe financiados por facções partidárias e organizações dos crimes organizados; o Brasil das obras superfaturadas, dos estádios monumentais, para mostrar a face cosmética do pseudo país do futebol; as obras apressadas, seguras(?), construídas em vésperas das eleições; a reforma política, a reforma tributária, a reforma penitenciária, a reforma da previdência social, sempre prometidas e nunca executadas.
O elenco de dívidas das instituições para com a comunidade e os eleitores é interminável, prezado leitor.
Há quem diga que política é tomar decisões que afetam a melhoria da população, mas os partidos e seus líderes, eleitos por todos nós, desde a nova Constituição, ainda estão entretidos e comprometidos com seus interesses pessoais, familiares, tribais e oligárquicos.


Anos e anos de espera; governos e governos se passaram após a ditadura! Muita coisa mudou, é claro, vários programas foram implantados e começam a dar frutos, mas a consciência e a qualidade dos políticos ainda estão restritas aos seus currais, engordando seu gado e rebanho.
Talvez o mal maior do “Brasil padrão FIFA” tenha sido, e é, a falta de grupos de liderança. Carecemos de homens públicos, juristas, intelectuais, políticos, religiosos, universitários, estudantes, que tenham o interessem em pensar a Nação, independentes de compromissos partidários fundamentalistas.

Ronald Carvalho, poeta modernista, em seu poema “Brasil”, escreve: “ Nessa hora de sol puro eu ouço o Brasil./Todas as tuas conversas, pátria morena, correm pelo ar.../ a conversa dos fazendeiros dos cafezais,/ a conversa dos mineiros nas galerias de ouro,/ a conversa dos operários nos fornos de aço,/ a conversa dos garimpeiros, peneirando as bateias,/ a conversa dos coronéis nas varandas das roças... Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro/ nas palmas paradas/ pedras polidas/ claridades/ brilhos/ faíscas/ cintilações/ é o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços, onde dorme,/ com a boca escorrendo leite, moreno, confiante, O homem de amanhã!"

Além da metáfora dos versos de Ronald, encontro no poema “Mãos Dadas” do Itabirano, Carlos Drummond de Andrade ideias pertinentes também ao nosso tempo atual:


“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olhos meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a passagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente."



 

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