sexta-feira, 14 de março de 2014

TANTO RISO

Postado por Berto Fuilho

Fui hoje de manhã ao blog do Ricardo Noblat e arrastei a crônica do Sandro Vaia, "Tanto riso".

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla). 


Segue a crônica.

O PMDB só dá alegrias à presidente, ela disse, mas ela não se atreveu a fazer as contas e confessar como essas alegrias saem caro.

Por enquanto, a Câmara, por 267 a 28, decidiu convocar e/ou convidar 10 ministros para prestar esclarecimentos sobre assuntos ligados às suas pastas.

Como disse o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, um dos convocados, trata-se de um evento normal da democracia, e ninguém deveria se espantar ou se preocupar com isso.

E seria mesmo um evento normal numa democracia normal onde as relações entre os 3 poderes fossem normais.

O plenário comemorou a goleada sobre o PT com aquelas fotos clássicas de momentos históricos do Congresso, como quando foi aprovada a licença para processar o então presidente Collor, o que o levou à renúncia: braços erguidos, como as comemorações de gol em estádios.


Deputados no plenário durante a sessão que aprovou a criação de comissão externa para apurar irregularidades na Petrobras. Foto: Gustavo Lima / Agência Câmara
Um amigo jornalista, íntimo das peculiaridades do jogo, político e dos seus atores, definiu o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, como um cínico imperturbável , “um inseto que mata o elefante”, e atribui a ele o poder de “equilibrar o ecossistema político”.

Cunha, segundo essa descrição, “é impermeável, não move um músculo facial, a não ser para um esgar irônico quando ouve as duas consoantes...PT”.

Além da convocação dos 10 ministros, os deputados em rebelião podem provocar outros estragos na frente governista, como derrubar o projeto de Marco Civil da Internet, aprovar uma CPI para investigar a Petrobrás e até derrubar o veto da presidente Dilma ao projeto de criação de até 269 novos municípios, que tem o potencial de provocar um rombo de até 9 bilhões nas contas públicas.

O PMDB demonstrou a força que tem dentro da Câmara ao capitanear a rebelião da base aliada, e exibiu seu enorme poder de barganha -- ou se preferirem de chantagem -- que tem em relação ao governo e seu partido.

O vice-presidente Michel Temer, com seu brando perfil de mordomo, embora tendo recorrido ao seu interminável estoque de panos quentes, sentiu-se obrigado a declarar sua fidelidade ao partido e dizer que obedecerá à sua decisão, mesmo que ela seja a de não apoiar a reeleição de Dilma.

É evidente que Temer dificilmente diria isso se a possibilidade de o PMDB não apoiar Dilma existisse de verdade.

Os outros candidatos à presidência tentam beliscar algumas migalhas da força do PMDB aproveitando-se da deterioração dos laços de fidelidade entre os aliados, resultado do choque entre um misto de voracidade do ex-partido de Ulysses e da soberba do governo, que não tem sido tão generoso na partilha quanto o parceiro acha que merece.

Tudo indica que as coisas se arranjarão, como sempre se arranjaram entre aliados do poder, com alguns afagos aqui e ali, mas com menos riso e menos alegria no salão do que a presidente gostaria.


 

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