sexta-feira, 11 de outubro de 2013

BIOGRAFOBIA

Postado por Berto FilhoO texto que segue, publicado pelo O Globo, registra opiniões do escritor e pesquisador Ruy Castro, que resolveu parar de escrever biografias diante da biografobia de notáveis da MPB, como Roberto Carlos, que proibiu um livro sobre a sua vida, escrito por Paulo Roberto Vasconcellos. Deveria ser proibido proibir - título de uma das músicas de Caetano Veloso - na seara da liberdade de expressão para não amordaçar quem quer lançar uma luz na história real de personalidades famosas para iluminar uma parte da fraca memória nacional. Acho necessário que a sociedade braileira deva saber, por exemplo, que Gilberto Gil, antes de ser quem é, era cantor e criador de jingles e tocava acordeon no estudio de som do empresário Jorge Santos, em Salvador. Um belo dia de 1959 ou 1960, o baiano Jorge o carregou para o Rio onde Gil conheceu meu pai Sivan, parceiro de Jorge Santos. E aí começa uma outra página que um dia poderá figurae na biografia de um dos fundadores da Tropicália. 
    
Ruy Castro diz que Procure Saber faz 'campanha antidemocrática'

Em um debate sobre biografias realizado nesta sexta-feira (11) no pavilhão brasileiro da Feira do Livro de Frankfurt, o jornalista Ruy Castro chamou de "campanha antidemocrática" pela "censura prévia" a ofensiva contra biografias não autorizadas lançada pela associação Procure Saber, que reúne músicos como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e Chico Buarque. Autor de livros sobre Garrincha, Carmen Miranda e Nelson Rodrigues, Castro se mostrou preocupado com as possíveis consequências da campanha sobre "toda a produção intelectual do país":

 - A expressão “biografia autorizada” significa que devo submeter o livro à aprovação do biografado. Se isso não é censura prévia, então eu não sei português. O Procure Saber faz uma campanha antidemocrática que pode render frutos, afinal eles são famosos e têm acesso a políticos. E isso é uma ameaça não só para biógrafos, mas também historiadores, jornalistas, ensaístas, para toda a produção intelectual do país. O Brasil não pode ficar impedido de saber sua História só porque Roberto Carlos não quer que saibamos de sua perna mecânica - provocou Castro.

Castro elogiou a atitude da ministra da Cultura Marta Suplicy de consultar os autores sobre a polêmica das biografias, em um encontro com a delegação brasileira em Frankfurt na terça-feira. Mas lamentou a postura de Marta sobre o pagamento de royalties a biografados, sugerido por integrantes do Procure Saber. Na terça-feira, depois do encontro, Marta disse ao GLOBO que ficou “impressionada” com os argumentos dos escritores e que pretende “ouvir todos os lados para formar um entendimento”.

- Na reunião, Marta pareceu aberta ao diálogo. Isso é ótimo, porque até então ela só vinha ouvindo o outro lado, repetidamente. Mas a ministra disse que entendia o argumento de que devemos pagar royalties (aos biografados). Isso é dízimo! Então, se eu pagar dízimo, posso falar da perna mecânica do Roberto Carlos ?

Castro defendeu a mudança do artigo 20 do Código Civil, que regula o direito à privacidade e tem sido usado como argumento em ações judiciais de figuras públicas ou seus herdeiros que se sentem lesados por biografias. Lembrou o caso de seu livro sobre Garrincha, “Estrela solitária”, que passou um ano fora de circulação devido a um processo movida pelos herdeiros do jogador. E citou outros casos famosos, como a biografia de Noel Rosa escrita por Carlos Didier e João Máximo, que chegou a ser publicada em 1990, mas foi proibida por iniciativa dos herdeiros e permanece fora de catálogo até hoje.

- É a melhor biografia já feita até hoje de um compositor brasileiro, mas está impedida de circular - lamenta Castro, que cogita não publicar mais biografias se o impasse legal não for resolvido. - Enquanto não for assegurada minha independência, não quero fazer biografias. Outros biógrafos também pensam assim. A maior prejudicada é a história brasileira.

A mesa com Ruy Castro teria também a participação do jornalista Fernando Morais, autor de biografias de Assis Chateaubriand e Paulo Coelho, entre outros, mas ele cancelou sua ida a Frankfurt no inicio da semana.


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