quarta-feira, 23 de outubro de 2013

LEILÃO DO PRÉ-SAL LANÇA A PRIVATIZAÇÃO PT

Postado por Berto Filho

Em algum momento ainda impreciso de sua história de pesquisas geológicas, a Petrobrás deu com os costados em reservas gigantescas de petróleo na camada pré-sal, estimadas numa faixa que vai, segundo Dilma, de 8 a 12 bilhões de barris, e a uma profundidade que mete medo só de pensar. Um óleo leve.nobre, tipo Arabia Saudita,  


O leilão do pré-sal é um fato político com grande potencial de fazer carreira na campanha eleitoral.com dividendos maiores, em tese, para Dilma, a menos que surjam motins a bordo nos consórcios vencedores e o modelo de partilha seja alterado, com redução dos poderes da PPSA. 

Em vez do PT demonizar, como sempre fez, a privatização gerenciada pelo PSDB, vai defender o seu estilo diferente de privatizar mantendo as decisões nas mãos do todo poderoso Estado, controlador da Petrobras e da PPSA. Uma nova embalagem para um velho produto.


Recordar é viver. 
Na campanha de 2010, Dilma acusou Serra de ter a intenção de privatizar a Petrobras e o pré-sal. Foi uma tática esperta para jogar no colo do Serra a bomba caseira de uma suposta privatização pra lá de cabeluda pois mexeria com os brios nacionalistas mais arraigados. 

O lema “o petróleo é nosso” ainda é muito sensível e caro, apesar do petróleo estar perdendo glamour como commodity na competição com outras formas de produção de combustíveis e energia.

No vídeo do link abaixo, Dilma fala isso com todas as letras e jura que privatizar (a Petrobras ou o Pre-Sal) é crime. Pois agora, Dilma cometeu o “crime” que atribuía ao concorrente de então. Coerência não é atributo de político no padrão brasileiro. 

https://www.youtube.com/watch?v=vX8allpFVvo      
Em cadeia nacional de TV a presidente Dilma negou que o leilão do dia 21 seja uma privatização clássica (como as que o PSDB fez), que, na visão dela, seria entreguista. Se não foi privatização, foi o que ? 

A própria Dilma responde : “85% de toda a renda a ser produzida no Campo de Libra vão pertencer ao Estado brasileiro e à Petrobras. Isto é bem diferente de privatização.” E mais : “Serão gerados R$ 1 trilhão em 35 anos, 75% para a educação e 25% para a saúde.” 
 Como será possível garantir que esses números serão alcançados ? Dilma ainda não informou. 


A oposição se sente tentada a denunciar que os números estratosféricos alardeados por Dilma seriam uma vaga promessa eleitoreira. Uma justificativa para amenizar o fracasso de um leilão sem concorrentes, Como disse Eduardo Campos, sem que a sociedade tenha sido chamada para entender e opinar. . 


Dilma afirmou que foi um marco histórico. O governo proclama que foi um sucesso. Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves, dentro do esperado, contestam, reduzindo o feito a un fracasso. Nessa linha de ataque, talvez quisessem dizer, cada um com suas palavras, que o tal sucesso apregoado por Dilma só seria admissível se tivessem se formado pelo menos 2 ou mais de 2 consórcios porque aí sim haveria disputas acirradas e seria obtido um bom ágio (o ágio foi zero). 

Aécio defendeu os direitos autorais da privatização do seu partido e saudou a conversão do PT à estratégia de desestatização da economia, iniciada no governo Collor e aprofundada nos mandatos de FHC.


A privatização petista pelas bordas, heterodoxa, paradoxal, porque a estatal Petrobras é a xerife do consórcio, tem tudo para ser incluída no cardápio dos temas que vão ser discutidos na campanha da sucessão, conforme comentei no começo deste artigo. Mas é um tema meio elitista, inclusive para pessoas mais esclarecidas, pela difícil compreensão do que seja tirar petróleo de uma camada que fica a 7 km de profundidade no mar. Libra fica a pouco mais de 180 km da costa. Para quem vai trabalhar na empreitada, é uma viagem pra lá de alucinante. 

 Lembra mesmo a viagem sem volta para Marte organizada pela holandesa Mars One, que atraiu perto de 200 mil inscritos. Desbravar a camada de pré-sal talvez seja um desafio mais seguro e com volta...


Apesar do elitismo, as periferias do “Mais Médicos” e do Bolsa Família são facilmente impressionáveis com os trilhões que já jorraram e vão seguir jorrando das bocas de representantes do governo federal, da ANP e da própria Petrobras ao se referirem e este leilão, especificamente, e aos próximos. 

O tempo dirá quem tem razão e se esse tema será decisivo ou não no troca-troca de intenção de voto até 3 de outubro.

O sucesso do modelo depende de como as coisas vão andar entre os membros do consórcio vencedor pelo menos até sair a primeira gota de petróleo e de sua replicação nos futuros leilões do pré-sal.

Mas nem tudo são flores nesse casamento rápido, na delegacia do Hotel Windsor, da Petrobras com 4 solteironas que falam outras línguas. O que não agrada as estrangeiras nessa lua de mel é que a “a Petrobras impõe ser a única operadora e ainda participar com pelo menos 30% do consórcio vencedor, qualquer que seja ele, e concordem ou não os demais integrantes com as condições que forem oferecidas.” 


Outra reclamação é a forte participação do Estado por meio da Pré-Sal Petróleo S/A (PPSA), a estatal que será a gestora e fiscalizadora de todas as operações. As 4 casadoiras estranham a participação da PPSA no comitê operacional que vai gerir os negócios, com direito a voto, a veto, a casa, comida e roupa lavada. Brigas de ciúmes podem rolar.

Então, se as coisas são assim mesmo, a presidente Dilma parece estar com a razão quando afirma que não é uma privatização clássica em que o controle total é assumido por empresas privadas, inclusive com financiamento do BNDES, e sim uma gigantesca parceria público-privada na qual o Estado continua comandando o espetáculo.

O casamento vai durar para sempre até que o rateio dos lucros separe os cônjuges ? O amor vai ser eterno enquanto durar ?


Vocês já viram que o lance do governo com esses leilões de arromba vai muito além de 2014. Se Dilma capotar, quem garante que o modelo de partilha não será alterado pelo sucessor que pensa diferente ? Dilma e o PT aceleram o pré-sal no atual mandato de olho na reeleição e no continuísmo.

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