sexta-feira, 25 de outubro de 2013

PUTIN, MARINA SILVA E AS VELHAS RAPOSAS DA POLÍTICA BRASILEIRA

Postado por Berto Filho
Autor : jornalista Denis Kuck
Artigo publicado no periódico "O Peru Molhado", edição 1164, de 18 a 25 de outubro de 2012



Nada do que foi será, há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha sua vã filosofia e o mundo não é tão simples como os petistas acreditam. Veja o caso do Prêmio Nobel da Paz deste ano, concedido para uma sigla que faz pouco tempo quase ninguém tinha ouvido falar, a Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas). No ano passado, aliás, uma sigla também foi agraciada com a condecoração, a UE (União Europeia).
A Opaq é o organismo criado para implementar a Convenção sobre Armas Químicas, em vigor desde 1997. A organização ganhou o Nobel por sua missão nobre e valiosa, livrar o mundo da ameaça deste tipo de armamento. Mas a Opaq realmente só foi lembrada pois recentemente foi designada para supervisionar a destruição do arsenal químico da Síria, país envolvido em um conflito entre governo e rebeldes que desde 2011 já matou cerca de 100 mil pessoas, segundo a ONU.
A presença da organização no país árabe evitou algo que chegou muito próximo de ocorrer e ninguém queria. Uma operação internacional, liderada pelos Estados Unidos, para derrotar o regime do ditador sírio Bashar al Assad, acusado de perpetrar um ataque com armas químicas na periferia de Damasco que deixou mais de mil mortos.
O acordo para impedir (ou adiar?) uma intervenção americana foi costurado por um aliado histórico da Síria, a Rússia, que desde o início do conflito vem bloqueando no Conselho de Segurança da ONU a aprovação de ações mais fortes contra o regime de Assad.
Com a sombra da opinião pública, da invasão do Iraque e da guerra do Afeganistão pesando sobre sua cabeça, os Estados Unidos se agarraram ao pacto proposto por Moscou: cancelar uma operação bélica e enviar uma missão para destruir as armas químicas do governo sírio (os grupos opositores do país, por outro lado, não se mostraram tão entusiasmados e disseram que nada mudará no conflito…).
O homem que impediu uma possível guerra, com a ajuda preciosa de seu chanceler, foi portanto o truculento presidente da Rússia, Vladimir Putin. Seria ele então merecedor do Prêmio Nobel da Paz?
Instituições russas, inclusive, o indicaram para receber a honraria. Putin não venceu, é verdade, mas de certa forma o Nobel da Paz premiou seus esforços e o fortaleceu. O histórico do governante, no entanto, parece mais propenso a levá-lo para um tribunal dos direitos humanos.

Putin governa com mão de ferro a Rússia desde 1999, alternado-se no cargo de presidente e primeiro-ministro. O governante, na virada de 1999 para 2000, na época como primeiro-ministro, liderou as forças russas na sangrenta guerra independentista da Chechênia, marcada por atrocidades praticada por ambos os lados.


Além disso, Putin vem pouco a pouco esmagando as vozes contrárias a sua autoridade e muitos oposicionistas chegam a ser presos, caso do ex-enxadrista Garry Kasparov, o que mereceu uma condenação do Tribunal de Direitos Humanos da Europa. Além disso, uma medida recente determinou a aplicação de pesadas multas para quem participar de manifestações não autorizadas.


Um caso marcante foi a detenção das integrantes do grupo Pussy Riot, condenadas a dois anos prisão por fazerem uma performance não permitida com críticas a Putin em um templo religioso. E mais recentemente, a prisão dos ativistas do Greenpeace que protestavam contra a exploração de petróleo no Ártico.Para não falar na aberração que a Rússia se transformou por sua política anti-gay: o Parlamento aprovou uma lei que proíbe “propaganda homossexual”, ambiguidade que na prática permite uma série de arbitrariedades, paradas gays foram consideradas ilegais e crianças russas não podem mais ser adotadas por casais homossexuais e por solteiros que vivem em países onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legalizado.

Muitos analistas afirmam que a democracia não chegou de fato à Rússia, que viveria numa mistura de capitalismo selvagem e czarismo com ranços soviéticos.
Uma escolha do Nobel sem tantos nuances seria para aquela que era considerada a favorita até o anúncio do prêmio, a menina paquistanesa Malala Yousafzaim, que sobreviveu a um atentado cometido pelos talibãs por defender a educação das mulheres em seu país.
Vivendo atualmente no Reino Unido, por sua bela trajetória de vida, Malala virou um símbolo mundial em prol dos direitos humanos. Numa era midiática, talvez o senão de Malala seja a intensa exposição de sua figura (já ganhou diversos prêmios, visitou a Casa Branca, disse que gostaria de ser primeira-ministra do Paquistão…), o que lhe dá um ar de extrema inocência e pureza. Uma espécie de Marina Silva.


Mas pensando bem, até nossa querida ambientalista renunciou ao posto de Madre Teresa de Calcutá (laureada com o Nobel em 79!) para se aliar às velhas raposas da política nacional…

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