segunda-feira, 21 de outubro de 2013

SAUDADES DE JUNHO

Postado por Berto Filho

Agora mais distantes no tempo, as manifestações de junho podem ser analisadas sem a paixão das ruas incendiadas e à luz de uma campanha presidencial que as próprias manifestações anteciparam, ao romper o statu quo de mansidão de lago azul em que a velha República, que Marina Silva diz ter ganas de enterrar, se refestelava placidamente nos umbrais do Planalto. Marina e Campos criaram o fato novo pós junho que sacudiu Brasilia e tende a ser porto seguro  e voz dos sem partido atrelados ao Rede. O que ainda é pouco para se colocar na fita de largada. 

Dilma se inquieta no trono e aproveita todas as chances que as circuntâncias lhe ofeecem para ocupar a mídia. Como, por exemplo, dar a volta por cima no auge do "surto" privatizante petrolífero. Hoje foi para explicar de forma didática, como uma profesora de ensino médio em sala de aula, as maravilhas que podem acontecer para o povo a partir desse contestado leilão do campo de Libra, acontecimento econômico com feições de ocorrência policial, em plena praia da Barra da Tijuca. O leilão não morreu na praia...

As palavras de ordem contra a corrupção, os partidos que não mais representam organicamente o eleitor mais esclarecido, denúncias de  estádios superfaturados, em defesa da saúde cambaleante, da educação anoréxica, pelo fim do voto secreto, adoção do recall para derrubar políticos inescrupulosos em pleno mandato, um elenco enorme de imperfeições inatas ou adquiridas, safadezas e injustiças que precisam ser extirpadas do comportamnto macunaímico do político brasileiro padrão 2013 ...  tudo isso, de repente sumiu do radar público e da agenda das pessoas que querem refundar o Brasil.  

As longas marchas nas avenidas mais importantes das principais cidades transmitidas ao vivo pela TV Ninja e pelas TVs convencionais entraram num túnel de silêncio que não sei se é de resignação e impotência diante do vazio de respostas ou se é  para recobrar as forças, reorganizar os pleitos e deflagrar novas avalanches em qualquer 7 de setembro fora de calendário.

Primeiro as ruas em festa de paz com famílias inteiras desfilando  solidariedade à faxina de mudança, e no final os shows de pancadaria e depredação coletiva dos black blocs e anarquistas assemelhados. Esse passou a ser o programa favorito da TV naqueles dias. As TVs tinham que pagar cachê ou direito de arena a esses artistas anônimos.   Vão derrubar o quê hoje, onde, que horas ? Tudo marcado pela internet, em cima da hora, para pegar a policia de surpresa, desorientá-la, provocar, dar a primeira bordoada e levar o troco da reação policial, o seu trunfo e troféu para escalar a mídia.. 

As passeatas, que apesentavam um arco ideológico de vários matizes, tons neutros e radicais extremos, e até logomarcas de alguns partidos à esquerda, deixam saudades não só pelo espetáculo proporcionado ao público em casa, que elevou a audiência dos telejornais aos píncaros pela tensão eletrizante dos confrontos corpo a corpo, bomba a bomba, de faixa de Gaza, que poderiam ter feito vítmas fatais.  Coisa de arena romana ou do moderno MMA. A turma queria ver sangue. Dos outros.

Deixam saudades também porque, passada a ira vulcânica, o leito do rio volta ao nível normal, os políticos, com honrosas exceções, não acusam o golpe. agem como se nada tivesse acontecido e tentam se apropriar das melhores bandeiras das ruas como se sempre tivessem sido propriedades deles. É o que se ouve e se vê nas chamadas publicitárias de partidos, verbalizado por notórios políticos profissionais de carteirnha que apostam na memóris fraca, na endêmica esperança de um futuro melhor e na disposição fisiológica, do eleitor, de negociar o seu voto, de trocá-lo por uma promessa de emprego ou pela prestação de um favor crucial.

O fato é que as  manifestações esmoreceram em magnitude, ficaram pontuais, perderam a abrangência do coletivo, tornaram-se corporativas como essas dos profesores do Rio.
O "Fora Cabral" já vai longe, desmantelaram os acampamentos na frente do prédio onde mora o governador. Os seguidos, quase diários entreveros e quebra-quebras nas vizinhanças do Palácio Guanabara de nada adiantaram. O governador cotinua lá, talvez menos eufórico, menos arrogante mas nunca desistirá de ser um político e disputar eleições. Nasceu para isso. Como todos aqueles que querem ocupar as cadeiras dos palácios de governos em todas os municípios, estados e no Pnalalto.

Os políticos brasileiros, mais uma vez, com honrosíssimas exceções, não parecem estar precupados com o fim da pobreza e sim com o seu aumento, pois pobre dá voto e voto dá poder. Como disse o Papa Francisco a um jornalista americano do canal MSNBC, numa entrevista em vídeo que não foi exibido, "já não há pobres a ajudar, porque foram empobrecidos permanentemente e agora são propriedade dos políticos. E algo que me irrita profundamente é o fato dos meios de comunicação observarem o problema sem conseguir analisar o que o causa. O povo empobrece e, logo em seguida, vota em quem os afundou na pobreza."  Notem, é o Papa quem disse.

Voltando à rica mobilização de junho, estimulada pelo Papa  Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude. No começo, as caminhadas de multidões rendiam dividendos democráticos  imediatos, inclusive o sagrado exercício do direito de livre manifestação pública do seu inconformimo. Jurava que era uma mega-sena de bondades políticas arrancadas a forceps na boca do caixa do Congresso. Era o clamor das ruas e faca na garganta dos políticos. Mas os manifestantes cansaram, deixaram cair a faca e os polítics voltaram a falar grosso e a não mais temer as ruas. É o que se constata, infelizmente. Muito pouco do que o povo pedia foi dado. O Congresso, Renan à frente,  fez um showoff de arrependimento, derrubou umas PECs nocivas, aprovou algumas benfeitorias, cantou o Hino Nacional e ficou aí.

Para encerrar, uma rcomendação :  todos os que se consideram  políticos com P maiúsculo deveriam ler o memorável discurso do sábio presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, feito na ONU durante a Assembleia Geral  Quem diz que ele é sábio também é o Papa.
Esse Papa me faz amar a Argentina. Se ela ganhar a Copa no Brasil, pelo Papa não vou achar ruim.

No Google você acha o discurso de José Mujica no link
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2013/09/leia-a-integra-do-discurso-de-jose-mujica-na-onu-4281650.html

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