quinta-feira, 17 de outubro de 2013

JOGOS AMBIENTAIS E POLÍTICOS

Postado por Berto Filho

Os treinos para o jogo da sucessão presidencial e os torneios das sucessões estaduais seguem animados nos gramados e arenas, com alguns carrinhos por trás, cotoveladas no rosto sucedidas por afagos e sopradas para não doer, joelhadas nos países baixos, rabos de arraia, pontapés na orelha e algumas rasteiras bondosas, tudo às escâncaras, na frente da mídia e da sociedade. 

As táticas e golpes variam conforme o adversário que o candidato escolhe para duelar. A diferença para o futebol e outros esportes coletivos é que o candidato não está sujeito à federação que organiza o campeonato. O que define a escolha do adversário e a tática é a pontuação na pesquisa.

Dilma está na dianteira com folga relativa mas terá que trabalhar muito com a caneta poderosa e seu cabo Lula para a canoa das intenções de voto não virar por um solavanco de alta magnitude.

Mais afeita ao jiu jitsu, uma das modalidade de lutas que compõem o MMA (Mixed Martial Arts), a peso-pesado Dilma, de quimono vermelho, escolheu o frágil graveto Marina, de quimono verde, para um pega verbal tematizado no desenvolvimento com sustentabilidade, na produção rural compatível com a preservação do meio ambiente. A floresta petista com seus duendes contra a floresta marinista com seus arcanjos e armadilhas.


Dilma quer levar Marina para lutar no chão onde pretende imobilizá-la com uma chave de agroecologia.
A plateia de petistas e movimentos sociais, como o MST, urra de alegria pelas 100 desapropriações de terras, de uma tacada só, que, segundo Dilma anunciou ontem (17), serão feitas até o fim do ano para salvar a lavoura da reforma agrária. Marina sai dessa chave de verdura com agrotóxico, se recompõe e reage com uma passagem de guarda hidropônica sacada das profundezas da teoria econômica. Se Dilma ataca de ecologia, Marina contra ataca de economia, o tal tripé controle da inflação, equilíbrio fiscal e câmbio flutuante. Seria esse o calcanhar de Aquiles da economia dilmática.

A inflação renitente, mantida em alta pela ganância de setores do comércio, entre eles os de supermercados, farmácias e planos de saúde, é o principal adversário de quem está no governo, porque é responsável por tudo de errado. A propaganda do que está dando certo se dilui, são palavras ao vento. O que pesa no bolso tem mais potencial de mudança de intenção de voto do que denúncias de corrupção, julgamento do mensalão, transas de Rosemary e malfeitos similares. Povão que recebe bolsa família não acredita nisso e decide uma eleição. 


Ao escolher Marisa para lutar no tablado, Dilma desdenhou de Aécio como se tivesse pensado em voz alta em dueto com o seu marqueteiro João Santana : “Aécio nem é o candidato do PSDB ainda, o Serra está na cola dele e o Aécio nem está com essa bola toda nas pesquisas, então por que vou me preocupar com ele ?” 

Há uma certa semelhança e também diferenças sutis entre o marketing político e o marketing comercial. No marketing político, o produto com qualquer rótulo ou embalagem é gente, pensa, interage, atua, muitas vezes fora das regras e da orientação do técnico. No marketing comercial, a marca que está em segundo lugar na preferência chama para a briga a marca que está por cima. 

Duelar com o campeão de audiência (Dilma) – como a Record faz hoje com a Globo e o SBT chegou a fazer durante um certo tempo quando se vangloriava de ser o campeão da vice-liderança - é o caminho mais curto e frontal para chegar ao topo.  Só que a distância entre as duas emissoras ainda é muito grande para ser zerada nos próximos 10 u 20 anos, a menos que haja um controle totalitário dos meios de comunicação e a Globo, alvo principal da Lei de Meios, venha a ser vítima.de asfixia econômica e financeira irreversível. Atualmente, o sistema Globo estaria recebendo R$ 7 de cada R$ 10 investidos em propaganda pelo governo federal. Mídia técnica. O governo, inteligente, gasta mais onde é mais visto, mais lido e mais ouvido. Mais de R$ 6 bilhões desde 2000.


Já a distância  entre Dilma e a soma das oposições não é tão confortável e pode ser descontada em alguns meses, dependendo dos erros e acertos no exercício do mandato.
Como lembrou Zuenir Ventura em artigo publicado recentemente no Globo e neste blog, Marina talvez queira reeditar com Dilma o “empate”, tática de resistência pacífica aprendida com Chico Mendes e usada contra os desmatadores da Amazônia. Recrutando mulheres e crianças, formava uma barreira humana que era colocada entre os tratores, as motosserras e as árvores a serem abatidas, deixando o inimigo sem ação. Se não o vencia, pelo menos impedia o seu avanço. 

Conta Zuenir : “Em um desses confrontos, que se tornou lendário, cerca de cinquenta policiais armados tentavam garantir o desmatamento diante de cem seringueiros. De repente, estes começaram a cantar o Hino Nacional e os soldados se perfilaram em posição de sentido. Só restou ao comandante da operação suspender a derrubada.”
Como seria o "empate" de Marina para evitar a derrubada de intenções de voto nela e no Campos pelas motosserras do Planalto ?  

Já Dilma foi guerrilheira, suas táticas eram bem mais agressivas, nada tinham de parecido com a romântica e assombrosa resistência pacífica da esquálida Marina. A nova imagem da Dama de Vermelho com retórica de executiva mandona parece ter sepultado a jovem um tanto quanto feia, de óculos, deselegante, cabelos desgrenhados, agitadora e militante do terror contra a ditadura.


Entraram em clinch, o juiz virtual do bom senso separa, as atletas vão para o centro do ringue e a luta recomeça. 
Dilma voltará a malhar na academia eleitoral reforçando a musculatura para um 2o turno com Marina ou Campos ou Aécio. Para enfrentar cada um, Dilma estoca munições e armas letais de grosso calibre. E cada um dos candidatos da oposição também acumula argumentos para uma guerra de palavras que promete ir muito além das fronteiras da temperança. Em ano de Copa do Mundo e manifestações nos entornos dos estádios superfaturados, potencialmente dispersáveis por um pesado dispositivo de segurança policial e militar.      

Mas esse é apenas um momento da disputa. Outras circunstâncias e imprevistos podem mudar a correlação de forças. Aécio deu cartão vermelho para palanque duplo em estados governados pelo PSDB. Realmente não faz sentido o governador Alckmin pedir voto para Campos e não para Aécio no palanque paulista do PSDB. No momento, Geraldo Alckmin não é um bom chamador de votos porque está sob marcação cerrada de manifestantes e, pior, incluído, com Serra, na questão do superfaturamento na compra de trens e vagões do metrô de São Paulo. 


Cada um vai tratar de defender o seu território das investidas de futuros aliados no 2º turno. Talvez seja um caminho para reanimar e oxigenar a política nocauteada nas ruas em junho quando manifestantes se consideraram (e talvez ainda se considerem) não representados pelos atuais partidos. 

A “briga” entre os candidatos das oposições por subida no ranking deve parecer autêntica, inclusive com provocações entre militantes do PSB, PSDB e partidos que estejam dispostos a apoiar os candidatos de ambos. Essa briga aparente, estratégica - o PT, o PMDB e a nação já sabem. - entre Campos-Marina (ou Marina-Campos) e Aécio e/ou o Serra (haverá mais alguém chegando de surpresa ?) é para unir as oposições, forçar o 2º turno e no segundo turno todos se unirem em torno do nome que chegar lá com Dilma, supondo que o cenário com Dilma na frente não se modifique até o começo da campanha eleitoral.     

2 comentários:

  1. Por enquanto a fase é do "toma lá, dá cá".
    Vamos esperar prá ver o que nos aguarda no final.
    Abs.

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  2. O que comanda todo esse movimento vital na mídia é a perspectiva de o candidato se sentir capaz de melhorar seu desempenho nas pesquisas. Intenções de voto são voláteis como éter. Podem migrar de um candidato para outros várias vezes não por ser o eleitor volúvel mas porque ele ainda não conhece bem os candidatos que batem à sua porta. Cristalização de intenção de voto (ou seja, a compra fechada da ideia do candidato "A" ou "B", só vai ocorrer mesmo lá na frente, depois de junho de 2014 quando as convenções partidárias definirem os candidatos oficiais. E depois que o eleitor conhecer melhor as ideias dos candidatos. Por enquanto, exceto Dilma, os candidatos na praça são virtuais, candidatos a candidato. Mas o jogo de sedução para impressionar o eleitor é o passaporte para melhorar a posição no ranking e faturar em cima do número positivo. A busca pelo poder é complicada. E o poder está nas mãos do PT há 10 anos e não quer largar o osso...

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