quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

UCRÂNUA AO SOM DA BALALAICA (*)

 Postado por Berto Fiho

(*) Balalaica é um instrumento musical criado na Rússia cujo som é uma das trade marks da música desse país. Pode ser ouvido neste link :
https://www.youtube.com/watch?v=tQvtVve5p_w


Não sou especialista em Ucrânia, país muito distante do Brasil e hoje no centro das atenções da mídia. Por isso vou recorrer a um jornaista que está de olho nesse país rachado em dois. Ali, está sendo travada uma queda de braço, por equanto diplomática, entre a Russia, a União Européia e os Estados Unidos - este, entrando por fora para reforçar o time ocidental que joga este jogo perigoso - que nos remete a lances da Guerra Fria.

Um texto que esclarece as coisas foi escrito pelo Caio Blinder, colunista da VEJA que mora em NY e faz parte do elenco do programa Manhattan Connection, da Globo News.

O título é :
"Putinadas e patinadas na terra dos avestruze"


Putin nada diplomático 

Vamos tentar estar na pele (ou no dorso nu) de Vladimir Putin. Claro que tudo o que está acontecendo na Ucrânia é terrível para ele e seus sonhos de preservar o que sobrou do império russo (czarista e comunista) ou mesmo de restaurar algumas de suas glórias. Uma Ucrânia na órbita russa é essencial para o projeto putinesco (vocês preferem assim ou putinista?). Putin não morria de amores pelo deposto presidente Viktor Yanukovich, o escroque que criava avestruzes na sua casa de campo, mas era o homem de Moscou em Kiev.

Putin, afinal, disse em abril de 2005 que o colapso da União Soviética fora “a maior catástrofe geopolítica” do século 20. Isto e não o nascimento dela ou o nazismo. Bem, não dá para consertar o estrago, mas ainda é possível causar muito estrago. Portanto, a crise ucraniana exige esmero geopolítico, especialmente porque paixões da Guerra Fria continuam acesas, inclusive com o temor de uma intervenção militar direta dos russos na Ucrânia, que eu considero improvável.

Natural que Putin sendo Putin, ele jogue de forma dura e cínica. Natural que a patria-mãe se preocupe com os seus interesses (como a base naval em Sevastapol, na Crimeia) e a proteção da minoria russa na Ucrânia (qualquer país faria o mesmo). Realizar exercícios militares, intimidar e também negociar fazem parte do figurino.

Putin não aceitará facilmente a separação ucraniana de Moscou, mas o risco é que no seu jogo ele provoque o separatismo do país, algo que não interessa a ninguém. Do lado ocidental, a jogada é ter firmeza, mas evitar provocações, inclusive com a ênfase de tratar a Rússia como parceira na inglória missão de resgatar a economia ucraniana. O problema é que Putin pode ir para o lado contrário e estrangular a economia ucraniana, como já fez no passado ao fechar a torneira de gás natural, além de cancelar empréstimos e comércio. Não seria racional fazer isto. Em caso de implosão ucraniana, também vai sobrar para Putin. A Ucrânia não é uma republiqueta no quintal russo.

Será preciso uma pressão global para impedir gestos extremamente perigosos como o uso de força militar por Putin. Parte do esforço será convencer a desconfiada minoria russa no país que é do seu interesse uma Ucrânia democrática, próspera e indivisível, na qual os direitos desta minoria sejam respeitados e ela não seja hostilizada. Tarefa difícil diante da existência de rancorosos setores ultranacionalistas na Ucrânia que querem ver o circo pegar fogo, além da grave crise econômica no país

Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de segurança nacional no governo Carter, ex-guerreiro frio e polonês de nascimento, diz que os EUA devem deixar de forma clara a Putin que estão preparados para usar sua influência para assegurar que a Ucrânia tenha o direito de ser genuinamente independente e indivisível, mas mantendo uma relação respeitosa e produtiva com Moscou.

Brzezinski recomenda a chamada “opção finlandesa, ou seja, o malabarismo do país nórdico nas relações com a Rússia e a União Europeia e sem participação em qualquer aliança militar que Moscou considere diretamente direcionada contra ela.

Cautela não é sinônimo de passividade. E como líder do chamado mundo livre, o presidente americano Barack Obama está diante de mais um desafio que desfaz sua ilusão de que ele possa deixar as coisas rolarem em alguns partes do mundo (como o Oriente Médio), enquanto direciona os esforços estratégicos dos EUA para a região da Ásia-Pacífico. A Europa e a Guerra Fria podem parecer relíquias, mas elas acabam de dizer presente em alto e bom som.

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