quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

UM BLOG DO OUTRO MUNDO

Postado por Berto Filho

 
Certo dia, faz tempo, li no blog do amigo Boni um texto que me seduziu pela ousadia, criatividade e simplicidade. Menciona pessoas que conheci, na época em que cruzei com o Boni pela primeira vez, quando estava na TV Excelsior de São Paulo. Hoje lembrei dele e resolvi publicar aquele texto.

UM BLOG DO OUTRO MUNDO

Nesta segunda-feira fui dormir cedo. Acordei em uma estação de trem em uma pequena cidade na qual jamais estive. Não conhecia ninguém mas todos sorriam para mim e me cumprimentavam. De repente vejo a figura do Luiz Eduardo Borgerth, um grande amigo recentemente falecido.

Estava saudável e mais magro, com uma capa de chuva, trazendo no rosto um sorriso sereno e uma “doçura” absolutamente inusitada para o sempre colérico companheiro. Estava com muita saudade dele e foi um conforto vê-lo. Perguntei se estava bem. Se tinha sido liberado para ver seus amigos, aqui pelo nosso mundo, e se eu poderia contar aos outros que eu tinha tido essa visão.

Ele me disse que eu não poderia dizer nada. Que ainda era cedo e que, em breve, ele me explicaria tudo e me contaria como foi sua morte e o que ele estava fazendo. Começamos caminhar juntos e eu estava amando ter a revelação de uma vida após a morte, coisa na qual, absolutamente, não acredito. De repente ele se adiantou e sumiu na multidão.

Continuei a andar e , na frente da estação de trem, havia uma feira livre. Eu queria saber onde estava e continuei caminhando. Encontrei o João Saad, o pai, dono da Band TV e também falecido, feliz e bem disposto. E logo depois vejo a Maysa com uma sacola de feira, repleta de verduras e com um lenço na cabeça. Ando. Em uma mesa, sozinho, também com um sorriso largo e acolhedor o Tom Jobim que me diz: - Senta ai. De repente aparece o Borgerth trazendo meu pai, muito mais jovem do que eu, falecido há mais de sessenta anos. Nos abraçamos comovidos e ele me disse que me levaria até minha avó Ana Carolina, ao Borjalo, ao Renato Pacote, ao Roberto Corte Real, ao dr. Roberto e aos que cruzaram a minha vida.O Borgerth , meu cicerone me disse que eu iria ver todos os que se foram e que estavam todos bem e em paz, tranquilos com a nova vida.

Ao lado da excitação bateu uma angústia. Quanto tempo duraria aquilo ? E aí pintou uma dúvida. Eu teria morrido dormindo? Começou a bater uma saudade da Lou, de todos os filhos e dos amigos daqui, do Jorge Adib, de todos, de todos. Perguntei ao Lulu, como chamávamos o Borgerth, se era o que eu estava pensando. Se eu realmente tinha morrido. Ele acenou positivamente. E disse: - Calma, você acostuma.

Lembrei-me, então, do bilhete que ele mandou aos amigos antes da cirurgia que o levou à morte, onde dizia: Se eu morrer venham se encontrar comigo, mas, por favor, não demorem muito. E o Lulu acrescentou:- Todos vão vir. É só ter paciência. Estaremos eternamente juntos, todos numa boa. Não... não, não! Essa espera não dava para mim.

Acordei assustado e ainda bem que a Lou estava do lado. Levantei para fazer xixi. Voltei. Não resisti e disse para ela que eu havia tido um sonho. Uma mistura de felicidade e desespero. Narrei tudo. Perguntei se poderia ir até o quarto do Bruno e dar um beijo nele. Ela não deixou. Ele ia acordar de manhã para estudar. Eram quatro e trinta da madrugada. Fiquei em dúvida se eu havia sonhado que tinha morrido ou se eu tinha morrido mesmo e ,agora, estava sonhando que estava vivo. Bateu o medo de dormir e acordar morto. Pensei em uma coisa: eu nunca recebi um e-mail do além. Se eu postar meu blog é sinal que não morri e tudo foi mesmo um sonho. Corri para o computador, escrevi e fui dormir . Se por acaso eu nunca mais acordar e vocês estiverem lendo esse blog, na pior das hipóteses, fica o registro:
Este é um blog do outro mundo.

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