sábado, 15 de fevereiro de 2014

UMA RODADA PELOS BLACK BLOCS

Postado por Berto Filho

Ainda que tenhamos o justo direito de ir ao cinema, aos estádios ou ver shows e novelas na TV para matar o tempo do ócio, temos que pôr os neurônios para trabalhar em assuntos que a todo momento insistem em nos atacar dentro de casa, assistindo a telejornais. Um deles é o das manifestações com black blocs, que vem crescendo verticalmente na mídia. Já fizeram uma vítima fatal e esse herói é um jornalista. Precisava isso ?


2014 é promissor nesse campo.
Em surdina ruidosa, crescem os estoques dos arsenais das tribos em guerra no asfalto. Estoques de argumentos, falácias, estratégias de ataque e de fuga, mentiras, balas, rojões juninos, bombas de verdade, balas, porretes com pregos, socos ingleses, tapumes de obras, vidros com gasolina para incendiar pneus, ônibus, carros...

O jornalista Claudio Haidar, da sucursal de Brasilia da VEJA, revela ângulos diferentes da violência nas manifestações, simbolizada, no primeiro momento pela polícia, que baixou o pau e as bombas quando acuada, e agora, por agentes mercenários dos black blocs, 2 deles flagrados por câmeras de celulares e de TV soltando o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade.

A matéria do Claudio vai logo depois do meu longo comentário a respeito de alguns descalabros na nota oficial do presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Marcelo Chalreo, que se refere ao ataque sofrido pelo cinegrafista Santiago Andrade no Rio, no dia 6, que resultou na sua morte.

Este senhor começa assim sua blitzkrieg verbal infeliz, que mais parece uma defesa dos assassinos do reporter ou um habeas corpus para absolver por antecipação futuras ações criminosas dos black blocs, que, hoje sabemos, são financiados por políticos de alguns partidos pequenos, de esquerda, vinculados ao PT. E por quem mais aparecer das sombras do anonimato. Os indícios dão a entender que existe uma inteligência sagaz e severa regendo essa orquestra de baderneiros ideológicos.

"Redijo essa por conta do incidente que causou graves e sérias lesões em um cinegrafista de um grupo de mídia na cidade do Rio de Janeiro na última quinta-feira." Não foi um mero "incidente que causou graves e sérias lesões". O reporter se chama Santiago Andrade, faleceu em consequência dos ferimentos causados pelo lançamento de um rojão (segundo a filha e o consenso da sociedade, foi assassinado) e trabalhava na TV Bandeirantes.

O sr. Marcelo Chalreo poderia ter começado a nota colocando os pingos nos is e dando os nomes e as funções dos personagens. Preferiu um parágrafo codificado, misterioso, distante, vazio e sinuoso. Começou mal.

É coisa de advogado que se supõe ser jornalista, quis dar uma de reporter. Para um jornalista ser advogado, precisa estudar muito, sem dúvida, fazer exames, receber diploma, ser aprovado pela OAB mas para um advogado ser jornalista, como talvez o sr. Marcelo gostaria de ser, talvez ele pense que basta sair digitando o seu pensamento ou o pensamento conjugado de seus colegas que, zás, shazam ! o jornalista aflora no teclado do computador e nele deita e rola seus dogmas e catilinárias.

Esse advogado diz na nota que os jornalistas que cobrem manifestações deveriam se proteger com capacetes, identificação bem visível y otras cositas más, tipo um kit de resistência contra ataques e emboscadas forjadas no meio de passeatas pacíficas por autores difíceis de serem identificados.

Só faltou dizer (ou será que disse e não percebi ?) que eles deveriam levar também máscaras anti-gases, colete à prova de bala, câmera com visão noturna, míssil anti-rojão e coquetéis Molotov para se defender de policiais violentos e/ou de black blocs tão violentos quanto.

Hummm... muito estranho esse ponto de "vista cega", não confere com o bom senso e a acuidade requerida pelo fato.

Primeiro que tudo, repórter na rua deveria ser visto pelas partes em conflito como um aliado, o registrador e transmissor de todas as cenas, inclusive daquelas que podem flagrar violência de uma parte contra a outra e que podem servir de prova na Justiça.

É de suas máquinas, bem como de celulares de alta potência nas mãos de manifestantes (a TV Ninja...), que pode vir o libelo determinante da verdade, aquela guerreira que é a primeira a tombar nas guerras como nas pancadarias coletivas em que certas manifestações costumam terminar. Repórter cobrindo manifestação deve ser visto como um enfermeiro da Cruz Vermelha ou um observador da ONU em missão de paz e não como um corpo estranho de duas faces que ora é visto por uma parte como "cúmplice" da outra e ora, pela outra parte, como coadjuvante da primeira.

Então, não cabe toda essa armadura de guerra num cinegrafista de paz que relata acontecimentos violentos no lugar em que acontecem. Sua câmera e microfone são a garantia da verdade, do não assassinato da verdade no campo de batalha. Sua vida tem que se preservada, e seu trabalho também, e esse compromisso sagrado precisa estar entre as obrigações dos manifestantes, sejam as manifestações combinadas previamente com a polícia ou não.

Santiago Andrade teria resistido se portasse um capacete de motociclista ou de material mais compacto ainda, à prova de rojão ? Quem sabe dizer ? Teria que ser feita uma simulação o mais possível próxima do real. Se, depois de vários testes, se chegasse à conclusão de que sim, acredito que as direções de jornalismo das emissoras cuidariam para que seus funcionários no campo de batalha tivessem
uma proteção adequada. Mas, pelo que sei, nem os correspondentes de guerra atuando bem longe de casa, dispõem de meios seguros de se proteger de bombas em distúrbios de massa, como os repórteres brasileiros que cobrem a Síria ou qualquer outra região do mundo onde haja conflagrações cuja cobertura seja profissionalmente obrigatória.

Mas até que ponto ele poderia conciliar a tecnologia de proteção de sua vida com a operação de filmar com precisão tudo o que está acontecendo em sua volta, tendo que se comunicar em tempo real com o colega na central técnica, receber instruções, etc ? Transmitir imagens ao vivo sob extrema tensão exige um preparo emocional e uma grande dose de coragem.


O jornalismo terá que reaprender a capturar cenas de manifestações, conciliando a eficiência técnica de filmar com a segurança pessoal do cinegrafista e do repórter que puxa o câmera para onde vai, para onde o acontecimento leva ?

O outro ponto levantado em má hora pelo mencionado advogado, a identificação do profisdasional, seria óbvia em tempos mais calmos quando os black blocs e assemelhados ainda não tinham entrado em ação.

Só de algumas manifestações para cá esses intrusos organizados passaram a investir, cada vez mais furiosamente, contra jonalistas a pé e carros de reportagem que circulam ou estão estacionados na praça do conflito.

A reiterada violência contra jornalistas, no começo praticada apenas por policiais despreparados, e mais recentemente, por esses rebeldes sem causa, sem contar os quebra-quebras e depredações de bens públicos e privados (ônibus, agências bancárias, veículos da polícia e da imprensa que o digam...) que são monopólio desses grupos, faz parte de uma nova patologia social que precisa ser diagnosticada e sanada por quem de direito e rapidamente, a tempo de ser contida ou mininimizada drasticamente antes da Copa e eleições.


Imagine o eleitor votar com medo de black blocs anti-voto se infiltrarem na fila de votação e detonarem um rojão parecido com esse que matou o Santiago... Haverá policiamento em todas as zonas eleitorais com poder de dissuasão, prevenção e repressão ?

Muito bem. Obrigado por terem me aturado até aqui.
Vou ao artigo do Claudio Haidar na VEJA.

 Governo dá munição às manifestações radicais

Medidas mal arranjadas, como o pacote de Dilma fracassado em junho do ano passado, ajudam a manter na rua grupos como o Black Bloc. Legislativo falha ao intermediar diálogo entre governo e movimentos sociais

Das avenidas lotadas de junho do ano passado, pouco restou. E os manifestantes que persistiram na marcha são, em grande parte, os mais radicais, dispostos inclusive a enfrentar a polícia e a promover ações como a que matou Santiago Andrade, atingido por um rojão lançado por dois mascarados. A ação criminosa que resultou na morte de um inocente é injustificável, e derrubou definitivamente o conceito de que a violência nos atos públicos é exclusiva da polícia. A quatro meses da Copa do Mundo, não há razões para crer que os protestos vão se tornar menos violentos, e a fórmula explosiva do cenário que se desenha para as capitais do evento repete em muito o que se viu no início da revolta: grupos interessados em estimular ações tumultuadas e incapacidade dos governos de entender e atender os manifestantes.

A maior mudança desde que eclodiram as manifestações pode vir agora, na forma de regras mais duras contra os atos que descambam para a baderna – algo que nem de longe serve de garantia para aplacar as investidas de quem quer criar tumulto. A rigor, o Brasil de junho de 2013 será praticamente o mesmo em 2014, depois da mal arranjada tentativa do governo federal de resolver todos os pleitos dos manifestantes com um “pacotão” anunciado pela presidente Dilma Rousseff – algo que não foi à frente – e alguns recuos momentâneos. No Rio de Janeiro, em especial, o movimento de agora parece um problema descongelado após oito meses: o aumento das passagens de ônibus.
“É evidente que a tarifa de ônibus precisa de reajuste periódico", avalia o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio. "Mas falta ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, dar mais transparência ao custo das empresas de ônibus. O aumento de agora provoca uma nova onda de protestos. Falta mais negociação e mais prestação de contas. Se quisermos diminuir os protestos, as instituições têm que funcionar. Dizer que os transportes públicos só vão melhorar em 2016 (como fez o secretário de Transportes do município, Carlos Roberto Osório) não é resposta”.

Há, segundo Ismael, uma lacuna que as casas legislativas simplesmente não conseguem preencher como deveriam. “A perspectiva revolucionária só diminui se as instituições policiais atuam de forma adequada. Não adianta trabalhar acreditando que o governo vai dizer e vai ser obedecido. O Legislativo deveria fazer essa intermediação entre governo e sociedade, mas a Assembleia Legislativa do Rio e a Câmara de Vereadores não cumprem esse papel”, critica.

Para o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, os governos municipal e estadual das regiões onde ocorreram grandes manifestações “brincam com fogo”. “Desde junho, nada mudou", diz. "Ironicamente, quem foi mais ativo nessa área foi o presidente do Senado, Renan Calheiros, que botou em votação projetos de lei que estavam aguardando tramitação, como o que transforma corrupção em crime hediondo. Para mostrar serviço, ele misturou reivindicações de várias partes há muito tempo. Mas só apareceu esse tipo de coisa. O Legislativo perde progressivamente a capacidade de representar a população, e só dialoga com governadores e prefeitos. As manifestações tomaram essa dimensão e esse formato, em parte, porque nosso país não tem organização suficiente fora da política tradicional”.
A morte de Santiago Andrade funcionou como um gatilho para desengavetar medidas que estavam paradas desde que os protestos se arrefeceram e, no Rio de Janeiro, os governos estadual e municipal passaram a tatear no escuro em uma loja de cristais, evitando ao máximo movimentos que pudessem deflagrar um novo levante. O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, levou ao Senado um projeto que tipifica o crime de desordem. Também entrou em tramitação um projeto do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que define o crime de terrorismo - e enquadra, entre as ações consideradas terroristas, boa parte dos atos perpetrados atualmente por grupos como o Black Bloc.

Ismael considera exagerada a criação de uma lei nesse sentido. “Os acusados de matar o cinegrafista podem pegar até 34 anos de prisão", afirma. "É a prova de que existe punição dura. Sou radicalmente contra a ideia de aprovar uma lei antiterror. Uma leia antiterrorismo terá aspectos subjetivos e dará muito poder à polícia. As leis atuais são suficientes para coibir as manifestações”.

Eleições

Entre as bandeiras dos manifestantes radicais está, com frequência, a que rejeita o voto, por não crer que o processo eleitoral e as instituições sejam instrumentos capazes de atingir “a mudança” – algo que expõe o caráter golpista de grupos como os black blocs. É no plano eleitoral, no entanto, que está uma das batalhas de agora. Depois de passarem metade de um ano usufruindo da proximidade com as manifestações, partidos de esquerda como PSOL, PSTU e alas do PT se viram encurralados. A morte do cinegrafista é a prova de que há ações criminosas dentro dos grupos radicais manchou de sangue algumas bandeiras.

O PSOL é, até o momento, o mais atingido, com a comprovação de que dois vereadores do Rio – Renato Cinco e Jefferson Moura – fizeram doações para um evento organizado por manifestantes em frente à Câmara Municipal e com a ligação de funcionários do gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo com a defesa de detidos em protestos. Nos dois casos não há ilegalidade. Existe, e isso é inevitável, um desgaste político de dimensão ainda desconhecida. “Ninguém se beneficia", constata Abramo. "Os organizadores [dos protestos] não tiveram capacidade de transformar isso em algo mais sólido. Deixaram de expelir os baderneiros”.


Minha nota : nem o repúdio às vaquinhas das multas dos mensaleiros ou seus privilégios nos presídios justificaria, no bojo da luta contra a corrupção, uma ação violenta de black blocs em uma manifestação. Mas quem pode garantir se fariam violência com essa motivação ?
Se um dia fizerem ou se não qualificarem a corrupção contra a qual lutam - o mensalão, por exemplo -, ficará mais fácil descobrir de que lado ideológico estão. Ou que partidos os financiam ou detêm seus "passes". 

  






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