quinta-feira, 3 de abril de 2014

A VOZ SILENCIOSA DAS RUAS

Post de Berto Filho

Foto : Google
A voz das ruas, temporaria e estrategicamente recuada, está decodificando, pacientemente, e convertendo para a sua nomenclatura e mandamentos morais de correção política, as montanhas de fatos negativos que assolam diariamente a mídia do país, a maioria gerados no Congresso e/ou por políticos e personagens que atuam no Congresso ou na política, bem como nas cercanias do Planalto e em certos palácios estaduais. Os prefeitos, mesmo os mais notórios detentores de vários mandatos, por enquanto não aparecem no radar. É que os aumentos de tarifas de transporte público ficaram para trás, trocados por bandeiras mais atraentes.

A voz das ruas não é uníssona, é um coral desordenado com muitos graves e agudos fora de sintonia. É natural que assim seja pois ela é uma algaravia formada pelas vozes de várias correntes de pensamento, algumas antagônicas entre si.

Caso dos black blocs voluntários e sem comando e dos black blocs de várias origens e interesses que obedecem a comandos invisíveis ; caso de militantes partidários radicais de correntes contrárias (grupos não muito numerosos mas agressivos duelaram no 31 de março). Engrossam esse coro os gritos de guerra dos criminosos comuns que fazem saques e arrastões, dos anarquistas sem causa, de adversários de políticos em campanha, e outras vozes menos votadas. 

Os manifestantes puros que querem moralizar a política estão ficando em casa com medo de levar um rojão no meio da cara. É uma voz fortíssima que se ausentou por uns tempos ou até que a segurança pública das cidades ofereça as condições para que essa voz seja ouvida com seus estandartes e cartazes feitos à mão, rostos pintados e coreografias bem encenadas. Essa voz está ausente não por covardia ou falta de solidariedade e sim por puro medo de sofrer baixas que podem ser evitadas. A volta da moralidade aos costumes políticos e aos negócios públicos é talvez o maior lema desses senhores, senhoras e jovens de boa família. Ela é a verdadeira consciência pública pulsante, o grilo pensante e falante criado por um improvável clone urbano de Walt Disney. Essa voz calada quer um Congresso sem vilezas e trapaças, sem a esperteza do senador Calheiros de servir ao Planalto inviabilizando a CPI da Petrobras com o truque manjado do baralho dos requerimentos de várias CPIs concorrentes, uma anulando a outra e todas morrendo no estado fetal.

Se a CPI, qualquer uma, não sair, que é o mais provável, o senador Renan vai posar de Pilatos, lavando as mãos e ganhando créditos junto à presidente Dilma.

Será que o Renan está do lado certo, o lado que vai vingar em outubro ?

Se ele aceitasse apenas a CPI pedida pela oposição, ele talvez conseguisse apagar uma boa parte da mácula que quase o crucificou nas manifestações de junho, quando exigiam sua renúncia e a cassação do seu mandato. O insigne ficante ficou e dá uma de mocinho no bangue-bangue da política nacional.

A voz das ruas não vai esquecer isso, nem o bilhão e trezentos (daí para cima) de reais gastos festivamente na compra da refinaria de Pasadena, nem o investimento no porto e outras obras de infra-estrutura em Cuba, os empréstimos a fundo perdido para Fidel Castro no Mais Médicos, os perdões de dívida para devedores africanos e outras bondades com o dinheiro público beneficiando parceiros ideológicos.  

A voz das ruas não deve ter se esquecido dos estádios superfaturados, essa pauta vai esquentar de novo com a proximidade do início da Copa. Tal é a preocupação do governo com o desgaste de possíveis confusões nas ruas que o ministro Gilberto Carvalho foi escalado por Dilma para conter os manifestantes antes que eles decidam voltar às ruas nas 12 cidades sede da Copa. Missão corajosa de caixeiro viajante, de sacerdote da persuasão, que levará na bagagem uma maleta lotada de medicamentos de dissuasão e "deixa disso", "senta que o leão é manso", "vem pra cá, o que é que tem, eu não tô fazendo nada e você também..." 

Boa sorte, ministro !


   

Nenhum comentário:

Postar um comentário