sábado, 26 de abril de 2014

VIDA SIMPLES DO INTERIOR

Post do Berto

Recorro ao mestre Moacir Japiassu que, lá do alto da montanha, lamenta informar que a tal vida simples do interior é apenas uma ilusão.

O link abaixo reporta a coluna Jornal da Imprença desta sermana, de sua douta autoria.
http://antesqueeumeesqueca.weebly.com/jornal-da-imprenccedila.html



O título da reportagem do UOL:

Famílias trocaram a cidade pelo campo para ter uma vida simples
Janistraquis (personagem do Moacir) sorriu:

“Até a ‘filósofa’ Marilena Chauí, musa do PT que odeia a classe média, teve pena de tamanha pureza d’alma; não existe mais a tal vida simples”.

É verdade; vida rural é difícil e cada vez mais perigosa. Há algum tempo, Odilon, amigo nosso, seguia a pé do sítio para a cidade, como todos os dias, quando foi assassinado no meio da estrada Cunha-Paraty a golpes de barra de ferro. Nunca acharam o bandido que cometeu a maldade contra um homem bom, que andava sem dinheiro no bolso e não tinha armas.

Há alguns meses, Geraldo Bernardo, comerciante aqui ao lado do Maravalha, foi atacado a pauladas no instante em que encerrava o expediente, no início da noite; os bandidos, três menores de idade, também invadiram a residência, que ficava em cima do armazém, e mataram a facadas a mulher dele, dona Nair. “Apreendidos”, como dizem os trouxas, os bandidos devem ter sido beneficiados pela folga da Semana Santa.

A vida no meio do mato se transformou num pavor diário. Nossos sítios e chácaras são cercados por apenas três, quatro fios de arame farpado, e, se o bandido não pula por cima, arrasta-se por baixo ou então mete o alicate e passa do mesmo jeito. Ter cachorro é a mais inocente das ‘providências’.

A segurança talvez esteja nas armas de fogo e na disposição de atirar até nas sombras da noite. Janistraquis vai tentar contato com Marcola para ver se compra, a prazo, é claro, uma metralhadora e algumas granadas para esticar um pouco mais a vida simples desejada pela classe média de Marilena Chauí.



Praia do Forte : a vista para o mar dos mineiros e suburbanos sem praia


Peço licença, Moacir, para entrar nessa conversa. Moro na decantada província de Cabo Frio, um balneário exótico, hoje mais ocupado por mineiros e "duristas" da Baixada Fluminense do que por cabofrienses nativos ou cariocas da classe média antigona, essa mesma que Marilena Chauí odeia.

Dotada de praias belíssimas e de pôres-de-sol deslumbrantes, Cabo Frio veio à luz das descobertas pela Lagoa de Araruama.

Veja só como são as coisas. Conta o wikipedia que em 1503, a terceira expedição naval portuguesa para reconhecimento do litoral brasileiro sofreu um naufrágio em
Fernando de Noronha e a frota remanescente se dispersou. Dois navios, sob o comando de Américo Vespúcio, seguiram viagem até a Bahia e depois até Cabo Frio. Junto ao porto da barra de Araruama, os expedicionários construíram e guarneceram com 24 cristãos uma fortaleza-feitoria para explorar o pau-brasil, abundante na margem continental da lagoa. É, este é o começo. O começo da história de Cabo Frio e da exploração das riquezas do Brasil. A história de Cabo Frio é quase a história do Brasil. Pedro Álvares Cabral não descobriu o Brasil em Cabo Frio porque os deuses navegantes tinham preferência pela Bahia de Todos os Santos. Se quiseres ir bem para trás, verás que a ocupação humana das terras onde viria se estabelecer o município de Cabo Frio teve início há mais ou menos 6 000 anos, quando um pequeno bando nômade de famílias chegou em canoas pelo mar e acampou no Morro dos Índios, então uma pequena ilha rochosa na atual barra da Lagoa de Araruama e ponto litorâneo extremo da margem de restinga do Canal do Itajuru.

Pois é, caro Moacir, a vida simples de interior em Cabo Frio foi pro espaço. Quando vim para Cabo Frio pela primeira vez, nos anos 60, a cidade parecia uma aldeia. Hoje, Cabo Frio, bombada pela mídia e por prefeitos que querem bater recordes de turistas barulhentos todo ano, venham de onde vierem, paga o mico de ter se transformado num subúrbio das Alterosas e da Baixada, foi parar no Irajá... Atraiu gente sem educação, sem consciência ecológica, sem ... bem, deixa pra lá. E pior : veio junto o crime que fugiu das comunidades "pacificadas" do Rio. Acabou a vida simples do interior. Cabo Frio já é uma metrópole média de 200.000 habitantes, crivada de tiques nervosos de cidade grande, vítimas de crescimento acelerado e desordenado. Motoristas impacientes, agressivos, comerciantes que querem ganhar na alta temporada tudo o que acham que vão perder na baixa. Bancos e hospitais com filas de padrão INSS, monopólio no transporte público, trânsito caótico nos horários de rush, carros de todas as marcas - novos e velhos -, ônibus, motos, caminhões, tratores, ciclistas e pedestres disputam espaço em cada rua do centro e de alguns bairros como se fosse o último... É, troquei o Rio pela vida simples do interior... mas aqui, apesar de tudo, ainda está melhor.

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