sexta-feira, 18 de abril de 2014

BLOG VERSUS FACEBOOK

Post de Berto Filho


Ilustração do Google

Bem, amigos, como diria o Galvão Bueno, chegou a hora de falar francamente do meu blog e da intensa migração de conteúdos dos blogs para o Facebook. Também tenho face mas no blog me sinto mais confortável. É como se eu estivesse na sala de estar da minha casa para receber meus convidados para um papo. No face me sinto do lado de fora da casa, todos que passam na rua podem me ver, ver meus amigos... nem sei quem são, embora muitos e bons blogueiros sejam facebookers também.

Meu blog é tão habitual (para mim) que já acordo pensando nele, no que escrever para ser lido por um pequeno grupo de fieis seguidores, ainda que esporádicos ou inconstantes. Se eu tivesse um(a) seguidor(a) me marcando homem a homem 24 horas por dia, me sentiria vítima de assédio ou conspiração. Não, não é o caso. Bem longe disso...

Sempre afirmei no blog que o considero um ponto de encontro, um bar na estrada para o leitor eventual dar um pit stop na Fórmula 1 da vida e refletir sobre a realidade. No final desse texto, colo o post da (infelizmente) ex-blogueira Cora Rónai no qual ela descreve o blog dela em termos parecidos com os meus. Não, ela não me copiou nem eu a copiei. É “transmimento de pensação”, coincidência ou, se preferir, tivemos, fazendo ao vivo, e sem contato um com o outro, a mesma percepção do que é um blog.
Mais adiante, ok ?

Não tenho a mesma visibilidade da Cora, que escreve no Globo. Não estou em nenhum grande portal como UOL, Yahoo ou Terra. Construo o meu blog a cada dia como um santuário de devoção à liberdade de expressão, à verdade, ao bom texto e à informação lúcida, com certas concessões ao bom humor e nenhuma concessão ao mau gosto musical. Digamos que eu faço parte de uma minoria radical, uma espécie em extinção, que pratica o bom senso. Em nome desses princípios que são herança de meus pais, avós e bisavós, não aceito ditadores e ditaduras de que lado for, gosto de alternância no poder, admiro atitudes de grandeza e sensibilidade vindas de qualquer ser humano, seja do poder (sempre mais difícil), seja da planície. Acredito que determinadas políticas públicas que dão certo, chamadas de estruturantes, não devem ser descontinuadas pelo governante seguinte, principalmente se for de oposição.

Defendo como um militante aguerrido o meio ambiente, o planeta Terra. Não sou eco-chato mas um combatente contra as safadezas e vilanias que se cometem contra a natureza. Especulação imobiliária em santuários ecológicos parece ser a sacanagem da hora.

Não tenho uma rede de repórteres abelhudos fuçando pessoas, documentos e gravações de diálogos entre suspeitos de cometer crimes – porque isso custa muito caro e eu não sou uma redação plugada nos celulares dos protagonistas dos fatos (não tenho essa pretensão) como têm as grandes redes e, por isso, tenho que me contentar em rastrear nos sites o que está acontecendo e dar a minha leitura à distância. Como um periscópio.

Também costumo postar colaborações que me chegam por e-mail e agradeço aos que têm exercido o bom voluntariado de disseminar relatos interessantes que passam ao largo da mídia de massa. Coisas que você não lê nos jornais, nas revistas e não vê e não ouve nos telejornais e noticiosos de rádio.

Não peço a você, leitor, que tenha a mesma opinião, pode discordar, com educação e elegância que o seu comentário ficará postado e outros leitores poderão interagir com você.
Quanto a mim, respondo, não de bate pronto como se faz no Facebook. Ainda estou me adaptando ao meio.

Agora, sim, vou levar a vocês ao texto da Cora que me sensibilizou, sobre a auto-extinção do seu blog. Tomara que ela volte atrás.
As dificuldades dela com seu blog, mesmo com a grande visibilidade global, de certo modo me encorajam.
Com uma ressalva : o Facebook pode ser mais intenso e instantâneo, uma febre, mas não têm a profundidade do blog autoral. O blog é quase um e-book, um livro eletrônico ; o Facebook é um parque de diversões, uma área de convivência e encontros coletivos, como num shopping.

CORA RÓNAI

Sim, abandonei meu blog
Antes de que nos déssemos conta, as ideias migraram da blogosfera para as redes sociais. Valeu a troca?
E os blogs pessoais, hein?
— Você abandonou o blog! — cobrou um leitor das antigas.
— Não é bem isso — desconversei. — Só mudei de ritmo, deixei de fazer atualizações diárias, ponho menos fotos...
— Justamente: você abandonou o blog.

Não se pode discutir contra evidências: eu abandonei o blog, embora me custe reconhecê-lo e, ainda mais, confessá-lo. O internetc., que nasceu em 2001 e que eu não conseguia explicar para ninguém, é hoje apenas um repositório das colunas do jornal, uma forma simples de manter à mão textos dos quais posso precisar. Os mesmos textos existem no OneDrive e no Dropbox, mas, bem ou mal, ainda há resquícios de caixas de diálogos no blog, onde um que outro leitor deixa o seu recado.

Fazer um blog em 2001 exigia certa determinação. Eu escrevia para 11 pessoas; em dias de muita repercussão, 19. Nenhum dos meus amigos entendia o que eu queria com aquilo, já que eu assinava coluna no GLOBO e editava um caderno de tecnologia. Para que alguém com tantos leitores se dava ao trabalho de escrever para meia dúzia?
Nem eu sabia muito bem.
O que me entusiasmava era a ideia da comunicação instantânea. Mas, como às vezes ninguém aparecia no blog, ficava no ar uma pergunta bastante pertinente: comunicação com quem, cara pálida?

Na melhor das hipóteses, com outros autores de blogs. A comunidade era pequena, todos nos conhecíamos, e era de bom tom visitarmos uns aos outros. Até hoje tenho ótimos amigos desses tempos pioneiros.

Depois do 11 de setembro, que revelou ao mundo a existência dos blogs, veio uma época de ouro, em que muitas pessoas - mesmo algumas que nem tinham blog! -apareciam regularmente, liam, davam palpite, trocavam ideias entre si nas caixas de comentários.

Essas caixas eram um outro capítulo, porque não faziam parte dos aplicativos. Eram bacalhaus escritos e mantidos por voluntários, que contribuíam para a “causa” pela mesma razão pela qual nós, blogueiros, escrevíamos: o prazer da experiência. Às vezes caíam, às vezes nem entravam no ar, às vezes davam defeitos. Ninguém reclamava; fazia parte. Mas era graças a elas que a comunidade vicejava.

O internetc. tinha leitores tão simpáticos que passou a ser chamado de “blogtequim”. Era um ponto de encontro e boa conversa, onde valia tudo, menos gente agressiva e mal educada. Uma das regras básicas era que as discussões tinham de ser pertinentes ao assunto. A exceção eram as fotos de gato, em cujos comentários o tema era livre. Nessas áreas é que, por vezes, rolavam os melhores papos, de discussões filosóficas a reclamações sobre calçadas esburacadas, passando por indicações de profissionais especializados e receitas de bolo.

Nessa época, o cérebro dos blogueiros da ativa funcionava de modo curioso: em primeiro plano, realizava as funções habituais de qualquer ser humano; mas, por trás, só pensava no que daria ou não daria um bom post. Uma flor amarela! Um guarda multando um carro! Um assalto! Uma briga na esquina! Uma viagem! Um livro! Um filme! Uma topada! Um sorvete de caramelo! Tudo era virado, revirado e eventualmente aproveitado. Ou não..

Com o tempo, os blogs pessoais migraram para o Facebook. Um dia um post que, normalmente, iria para o blog acabava no FB; no outro dia, mais um ou dois. Assim, antes que nos déssemos conta, o que antes chamávamos de blogosfera passou a ser rede social. O Facebook tem a vantagem de reunir todos os blogueiros que, nos velhos tempos, estavam espalhados. Ninguém precisa mais sair à cata de blogs; basta ir para a página principal. Valeu a troca?


BF : acho que não. Sou blogueiro visceral.


 

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