sábado, 3 de maio de 2014

BALAS DE OURO E PRATA

Post de Berto Filho



Depois de ler o artigo de Vitor Hugo Soares, jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta, achei que era minha obrigação trazê-lo para o desfrute dos meus leitores.

É o que faço.

O “Volta Lula” e a bala de prata de Marina
por Vitor Hugo Soares

Bala de ouro é um elemento bastante conhecido e comum na história policial e na cultura baiana. Incrustada há décadas no noticiário local, das últimas páginas dos jornais, de vez em quando ela ressurge e ocupa o imaginário romântico, passional e criminal na terra de Todos os Santos e de quase todos os pecados, no dizer do saudoso cronista do cotidiano, Nelson Gallo.

Para ser mais exato, essa mística circula na Cidade da Bahia e arredores desde o crime passional que abalou Salvador no Século XIX e, na verdade, não constitui grande novidade para os locais.

O novo mesmo é a bala de prata. Aquela que a ex-senadora Marina Silva – vice na chapa do PSB, encabeçada por Eduardo Campos, - introduziu no debate e no noticiário político nacional sobre as eleições presidenciais deste ano, durante sua explosiva visita a Salvador, esta semana.

Coincidentemente (ou não?), no mesmo período em que a presidente Dilma Rousseff esteve em andanças no estado. Distribuindo “bondades administrativas” contra a seca, cantando loas ao seu atual ministro dos Transportes, Cesar Borges (ex-governador e ex- carlista de carteirinha), afagando egos de aliados descontentes. Além, é claro, de tentar dar um empurrãozinho no “pesado” candidato Rui Costa, que o governador impôs a petistas e aliados para sua sucessão.

Vamos por partes, retornando à bala de ouro, para não perder o fio da meada deste artigo que mistura suspense policial com tensão política e eleitoral, nestes dias estranhos e complicados de fim de abril e começo de maio.

Em 1947, o historiador baiano e imortal da Academia Brasileira de Letras, Pedro Calmon, transformou em romance de enorme apelo popular, o célebre crime passional que rendeu manchetes sem fim nos jornais locais, em novelas e nos noticiários radiofônicos de um tempo sem TV e Internet. Além de segredadas conversas nos quartos fechados “de muitas famílias da alta sociedade baiana”, como era comum dizer-se na época.

Título do livro? : “Bala de Ouro”.

Um resumo a seguir, para contextualizar jornalisticamente a informação histórica e literária: O romance de Pedro Calmon foi inspirado no final trágico do noivado de uma jovem soteropolitana chamada Júlia Fetal e o professor João Estanislau da Silva Lisboa.

Julia se apaixonou por outro rapaz e, às vésperas do casamento, terminou o noivado. Estanislau considerou o rompimento “uma traição, que cobrava vingança para lavar a honra ferida”, como se noticiava na época. Mandou cunhar uma bala de ouro “para ser usada em ocasião especial”.

Júlia foi surpreendida dentro de casa e assassinada com um único e certeiro tiro no peito. O professor foi preso e o seu julgamento “dividiu a imprensa e a sociedade baiana”. Entre os favoráveis à tese dos advogados do professor de “legítima defesa da honra” ao praticar o crime “em razão da traição e humilhação sofrida. Do outro lado, os que pugnavam pela condenação de Estanislau “pelo crime insano, brutal e covarde (sem possibilidade de defesa da vítima) que ele cometera”.

O julgamento terminou com a condenação e prisão do assassino. Mais não digo sobre esta tragédia passional baiana. Quem desejar saber mais, que leia o livro do imortal Pedro Calmon ou consulte os jornais da época. Vale a pena, nos dois casos.

A história de Marina Silva é desta semana, Está quentinha ainda, pegando fogo mesmo, principalmente nos bastidores partidários. Ainda fervilha, na Bahia e no País, nos debates políticos e discussões sobre a sucessão presidencial neste ano de 2014.

A presidente Dilma, ao lado do governador Jaques Wagner (escolhido por ela para coordenar a sua campanha de reeleição no Nordeste), consultava meio atônita e arfante (como ainda parecia na “fala aos trabalhadores” em rede nacional da Radio e TV na véspera do 1º de Maio) o péssimo resultado, para ela e seu governo, da mais recente pesquisa de opinião.

Foi quando, de um auditório de homenagem da ONU à ex-ministra presidente do CNJ, Eliana Calmon (candidata ao senado pelo PSB na Bahia), por seu combate contra a corrupção no Judiciário, Marina lembrou o movimento “Volta Lula” que grassa nas hostes do PT e partidos aliados. Disparou:

“O ex-presidente Lula é uma bala de prata que o PT tem e isso é inquestionável. O problema é que bala de prata não pode falhar, porque quando ela falha, tudo desmorona”.

Marina disse mais, muito mais, na sua surpreendente metáfora da bala de prata cunhada em Salvador esta semana. E mais não digo, até porque mais não sei. Quem souber que revele, ou acrescente.

O resultado da bala de ouro do professor Estanislau, que matou Julia Fetal, já sabemos. A de prata, da metáfora de Marina, ainda é cedo para se prever o desfecho. Até porque não se sabe se “a bala de prata do PT”, será mesmo disparada.

O fato é que as visitas à Bahia da presidente Dilma Rousseff - em indisfarçável campanha pela reeleição apesar dos tropeços de seu governo e dos índices nada animadores de aprovação pessoal que tem colhido nas últimas pesquisas – e da ex-senadora e ex-ministra de Lula, Marina Silva, vice da chapa de Eduardo Campos (PSB), que promete azedar o chope governista (mesmo propósito do tucano Aécio Neves, em franca ascensão), deram um toque político ardido e todo especial a esta semana do centenário de nascimento de Dorival Caymmi , gênio musical da Bahia e do País. Cuja memória, depois da ventania, mar revolto e tempestade que sacudiram na data dos cem anos de Caymmi, esta semana, os soteropolitanos prometem celebrar em grande show na noite deste domingo (4) na beira do mar do Farol da Barra.

Um grande Viva a Dorival!


 

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